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O Rei da TV | Crítica
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O Rei da TV | Crítica

Série do Star+ sobre Silvio Santos diverte com atuações brilhantes e roteiro ousado

Pedro Siqueira
Pedro Siqueira
20.out.22 às 18h02
Atualizado há mais de 1 ano
O Rei da TV | Crítica

Aos 91 anos de idade e com quase sete décadas de vida pública nas costas, é espantoso que Silvio Santos levou tanto tempo para ter sua história contada no audiovisual. Avesso até a entrevistas, o dono do SBT ganhou uma biografia, apropriadamente, em formato televisivo com O Rei da TV. E é justamente pelo caráter “não autorizado” que a série do Star+ brilha ao recriar a fascinante história do ricaço, sem poupar sua figura de críticas e polêmicas.

A trama apresenta Silvio em crise após perder a voz ao vivo e descobrir um problema de saúde que poderia afastá-lo da TV. O período vulnerável (e verídico, aliás) serve como plano de fundo para que, desde o primeiro capítulo, tenhamos a dicotomia entre o Silvio Santos televisivo e o Senor Abravanel despido.

Interpretado magistralmente por José Rubens Chachá (Bom Dia, Verônica), Silvio alterna momentos de legítimo carinho e consideração pelo público e pela família, com ataques de fúria pelo temor de ser passado para trás na própria emissora.

Se só isso já seria o suficiente para uma narrativa intrigante sobre o Homem do Baú, O Rei da TV emprega ainda uma narrativa dupla, intercalando o drama do apresentador com passagens da sua vida em décadas anteriores.

Mesmo usada em diversas biografias anteriores, o recurso narrativo funciona não só na missão mais básica de contar a história de Silvio Santos (é uma série biográfica, afinal), mas é também a carta branca para alguns dos momentos mais inventivos vistos em um projeto televisivo este ano.

Quem quer dinheiro?

Entre os anos 1940 e 1970, Silvio é interpretado por Mariano Mattos Martins. Dos primórdios como vendedor ambulante nas ruas do Rio de Janeiro até o sucesso crescente em empreendimentos como o Baú da Felicidade e, claro, o Sistema Brasileiro de Televisão, Martins convence como o carismático animador, ainda que sua performance seja eclipsada pelo mais experiente Chachá.

Os mais apaixonados pelo folclore “SBTzístico” vão se deleitar com as diversas referências e piadocas trazidas pelo roteiro. Estão lá, por exemplo, os aviõezinhos de dinheiro, as músicas, figuras como Roque, Pedro de Lara e Sérgio Mallandro, e até a infame momento “e o bambu?”. Mas não só de reverência vive O Rei da TV.

Acompanhando as peripécias do jovem Silvio, a primeira narrativa mostra um homem ambicioso que, embora em momento algum cause antipatia no espectador, também não mede esforços para manipular situações e pessoas a seu favor (não raramente com dinheiro).

O lado “sujo” dos negócios vem na forma de personagens fictícios, como o malandro Stanislau (Leandro Ramos, do Choque de Cultura), mas não poupa nem figuras reais (e até vivas hoje em dia), como a TV Globo e as personas do poderoso Roberto Marinho e um certo Rossi (João Campos/Celso Frateschi), representação óbvia do empresário Boni.

A narrativa “de época” constrói uma base de qualidades e defeitos para que compremos o Silvio oitentista, em toda sua doçura e, por vezes, mesquinharia. A escolha de roteiro, felizmente, foge do storytelling quadrado ao fazer com que as duas linhas temporais conversem fluidamente (e até literalmente), com Mattos Martins entregando de bandeja um Silvio pronto para José Rubens Chachá brilhar.

Silvio Santos já chegou

Embora mais curta, a narrativa de 1988 é onde O Rei da TV se sai melhor. Correndo o risco de chover no molhado, é impressionante a caracterização e os trejeitos de Chachá como o apresentador. Do lábio inferior avantajado a quase imperceptíveis movimentos corporais, o homem assume o espírito do personagem, segurando a peteca de mostrar o lado vulnerável praticamente nunca visto pelo público.

Às voltas com uma cirurgia iminente, o Silvio “velho” conclui tramas abertas na outra narrativa e ecoa pontos da personalidade trazida por Mariano Mattos. É curiosa, por exemplo, a birra quase infantil com um então jovem Gugu Liberato (Paulo Nigro).

A direção eficiente de Marcus Baldini e equipe traz todo o espírito da TV aberta dos anos 1980, e flexiona os músculos com criativas e surreais sequências nas quais Silvio conversa consigo mesmo, retratado visualmente em programas da própria emissora.

No fim das contas, O Rei da TV não se preocupa em ser um retrato totalmente fiel de Silvio Santos, ainda que tenha a audácia de explorar cantos mais sombrios da personalidade do apresentador. E talvez isso seja mesmo suficiente, já que há um bom motivo para o homem ser, até hoje, um dos rostos mais famosos da televisão brasileira.

Ao assumir descaradamente a proposta de não se levar a sério, O Rei da TV traduz o espírito de anarquia e subversão que virou marca de seu biografado, voando em criatividade tal qual um aviãozinho de dinheiro, para alegria de um auditório de espectadores.

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