Logo do Jovem Nerd
PodcastsNotíciasVídeos
Noites Brutais | Crítica
Filmes

Noites Brutais | Crítica

Claustrofóbico, ousado e imprevisível, filme de terror é a grande surpresa de 2022

Arthur Eloi
Arthur Eloi
04.nov.22 às 14h46
Atualizado há mais de 2 anos
Noites Brutais | Crítica
Noites Brutais (Barbarian)/Divulgação

A luta anti-spoiler se tornou monetizável na cultura pop. Quando estúdios passam a implorar que pessoas não saiam contando reviravoltas, é mais uma estratégia para levar mais gente para os cinemas - afinal, você vai querer ficar de fora e descobrir algo legal através dos outros? No meio de toda essa histeria, muitas vezes injustificada, Noites Brutais (ou Barbarian) é um dos poucos longas que realmente se engrandece quando não se sabe nada a respeito.

Nesse caso, não é exatamente difícil não saber nada sobre o filme. O projeto nada mais é do que um terror de orçamento minúsculo, dirigido pelo desconhecido Zach Cregger e lançado diretamente no catálogo do Star+. O maior nome envolvido com a obra é Bill Skarsgard, que não é exatamente um rosto muito reconhecível sem a maquiagem do palhaço Pennywise (It: A Coisa). E, para o terror, toda essa aura de mistério é muito proveitosa, como prova o "auê" que fez na bilheteria dos EUA ao incitar a curiosidade do público.

O pouco que precisa ser falado sobre Noites Brutais é que a trama acompanha uma mulher chamada Tess (Georgina Campbell), que descobre que o apartamento que alugou temporariamente está ocupado por um homem chamado Keith (Skarsgard), por conta de um problema no agendamento do anfitrião. Os dois decidem dividir o lugar até conseguirem resolver essa questão, mas a noite esconde segredos macabros.

A premissa acima nada mais é do que um ponto de partida. O triunfo do filme é ser verdadeiramente imprevisível, com um fluxo constante de viradas que pintam um cenário muito mais intrigante, assustador e absurdo do que o inicial. O longa quer manter o espectador vidrado, e é impossível não se deixar seduzir pela progressão de insanidade que apresenta para garantir que o público sequer pisque.

Zach Cregger faz muito com pouco. Sua criação beira o minimalismo, partindo de uma situação mundana, usando pouquíssimos cenários e um grupo enxuto de excelentes atores. Os poucos rostos que aparecem conquistam, seja pelo carisma do Keith de Bill Skarsgard, pela sagacidade da Tess de Georgina Campbell, ou então pelo total descolamento da realidade, como o terrível AJ. Vivido pelo excelente Justin Long (Arraste-Me Para o Inferno, Olhos Famintos), o personagem aparece de surpresa para roubar a cena com humor e decisões lamentáveis, que só uma pessoa horrível e mesquinha poderia tomar.

O talento do diretor também é responsável por Noites Brutais ser tão fascinante. Cregger combina domínio da tensão e do silêncio com uma inventividade que lembra os primeiros trabalhos de Sam Raimi (Evil Dead), transmitindo claustrofobia e humor ácido ao brincar com enquadramentos apertados, sugestivos espaços vazios ou então câmeras montadas nos personagens, para acompanhar a ação de perto.

Além da ótima direção, Zach Cregger também assina o roteiro, e brilha com uma trama que extrai o horror do acaso, escalando uma pequena situação de incômodo para um verdadeiro pesadelo com a confiança de um conto de Stephen King. Assim como nas histórias do mestre do terror, nada é o que parece - mas o verdadeiro medo surge justamente em desvirtuar o mundano. O cineasta, que não tinha uma carreira muito interessante até agora, já se consagra como um dos nomes que merecem atenção nos próximos projetos, especialmente se decidir se dedicar ao horror.

Noites Brutais merece todo o falatório. É facilmente uma das mais gratas surpresas de 2022, um prato cheio para os fãs do gênero e também para amantes de reviravoltas. Tanto o filme quanto seu sucesso servem como lembrete do poder do horror no cinema atual, algo que ficou ainda mais evidente com várias obras de terror brilhando na bilheteria neste ano.

Mesmo na era das franquias, continuações e reboots, só o gênero consegue lotar salas (de casa ou do cinema) com uma obra inteiramente original, de baixo orçamento, de diretor desconhecido, e sem nenhum grande rosto no elenco. No horror, tudo que você precisa é ousadia, talento e vontade de bagunçar a cabeça do público.

Encontrou algum erro neste conteúdo?

Envie seu comentário

Veja mais

Utilizamos cookies e tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossas plataformas, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
Para mais informações, consulte nossa Política de Privacidade.
Capa do podcast

Saiba mais