MIB: Homens de Preto saiu em 1997 e foi uma grande surpresa para a Sony, arrecadando mais de US$ 500 milhões. A justificativa é bastante simples: além de ser um filme divertido, na melhor pegada anos 90 — com um claro cunho saudosista de décadas passadas —, ter Will Smith a bordo, naquela época, era praticamente garantia de sucesso instantâneo. O ator da Filadélfia vinha de uma sequência memorável de produções, incluindo Um Maluco no Pedaço, Bad Boys e o também longa de alienígenas, Independence Day.
Em 2019, 22 anos depois, a Sony revive sua marca com um reboot e tenta usar do mesmo artifício: pegar atores super hypados no momento. Infelizmente, nem o carisma de outro mundo de Chris Hemsworth e a potência dramática de Tessa Thompson foram capazes de tirar Homens de Preto: Internacional de um terreno morno.
Ainda criança, Molly, a personagem de Tessa Thompson, tem seu quarto invadido durante a noite por um animal estranho. Ao buscar ajuda, ela percebe que o bicho não é a única companhia na casa: homens de terno e gravata estão conversando com seus pais. Até aí tudo bem, porém, sem mais explicações e com apenas um flash, a memória da invasão desaparece do cérebro de ambos os adultos. Após um salto temporal, vemos que a menina nunca conseguiu esquecer o que viu naquela noite — mesmo sendo taxada de maluca pelos próprios pais. Finalmente, a moça encontra os Homens de Preto, durante uma missão em Nova York, e se apresenta. Esse é o ponto de partida para acompanharmos o desenvolvimento da mais nova recruta da corporação, a Agente M.
Pena que, mesmo sendo uma recruta em período de experiência, ela parece saber tanto quanto seu parceiro sênior e futuro líder da corporação, Agente H. (Chris Hemsworth). Uma das graças do filme original era ver o conflito entre o inexperiente e até certo ponto inocente Agente J. (Will Smith), desvendando um mundo singular, ao lado de seu companheiro ranzinza, o Agente K. (Tommy Lee Jones) — coisa que não acontece no novo longa.
Com uma linha de aprendizado quase nula, Molly pouco se surpreende com o novo universo apresentado, entregando uma sensação de indiferença para o público. Os olhos dela são os mesmos do espectador sendo inserido naquele ambiente. Logo, se os olhos dela não brilham com cada detalhe e alienígena quadrúpede passando, o nosso também não.
Mesmo com a boa química entre os atores, a falta de densidade na criação dos personagens torna tudo um pouco superficial, e nem o talento deles consegue carregar o filme.
O alívio cômico Pawny (Kumail Nanjiani) contribui para deixar o filme um pouco menos arrastado. O pequeno bichinho tem boas sacadas durante os diálogos e a velha fórmula da criatura fisicamente singela, mas de língua afiada, funciona bem (alô, Rocket Racoon!). Pawny é o responsável pelos momentos que arrancam aquela risada da audiência. Infelizmente, não há espaço para sabermos mais sobre sua história que, quando foi vislumbrada, parecia ser muito divertida!
Esse é um ponto baixo do filme como um todo: o universo dos Homens de Preto é pouco explorado. O cerne da produção, especificada em seu título, é que veríamos como funciona a operação em terras estrangeiras. Isso acontece, as locações são lindas, os protagonistas passam pelo Marrocos, Itália, França, Inglaterra… E o que cada lugar tem de especial? Nada. O quartel general inglês nada mais é do que o nova iorquino com sotaque. Teria sido interessante ver como a cultura local afeta a vida dos agentes, seja com alienígenas específicos para cada ambiente ou até mesmo roupas diferentes.
O mesmo acontece com os monstros. Quando não são meramente cenográficos, suas histórias também não são contadas — ao menos para dar um contexto. O gostinho de quero mais é iminente, podendo gerar frustração.
Homens de Preto: Internacional nada mais é que uma tentativa de reviver um título. Não é ruim, mas está longe de ser ótimo e desperdiça o potencial da franquia. Ainda que conte com efeitos legais, boas atuações e referências tanto aos filmes antigos quanto à cultura pop, o roteiro por vezes previsível e a direção pouco inspirada puxam o longa pra baixo. Ao contrário de seu grandioso marketing, a sensação com o produto final não é de blockbuster. Falta potência, grandiosidade e, provavelmente, após um hype inicial, será como se o público tivesse sido neuralizado com um simples flash de uma caneta: ninguém vai lembrar.