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Matrix Resurrections | Crítica
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Matrix Resurrections | Crítica

Nostalgia é heroína e vilã no novo filme, que acerta no tom emotivo e peca na conclusão

Daniel John Furuno
Daniel John Furuno
22.dez.21 às 10h44
Atualizado há mais de 1 ano
Matrix Resurrections | Crítica

Geralmente, a motivação e as possíveis intenções de um autor são acessórios em uma análise: servem mais para oferecer contexto e perspectiva. Em Matrix Resurrections, porém, elas passam a ter papel central, em virtude da importância que a trilogia original tem no enredo do novo filme.

A certa altura, uma personagem diz o quanto os feitos de Neo (Keanu Reeves) foram importantes para alguém como ela, acrescentando que a narrativa, no entanto, foi reduzida a algo trivial. É impossível não ouvir nessa fala (e em outras) a voz de Lana Wachowski, que, além de dirigir o longa-metragem, assina o roteiro em conjunto com David Mitchell e Aleksandar Hemon.

Tendo isso em mente, a declaração de Lana, dada em um painel, durante um festival de literatura na Alemanha, é reveladora em muitos sentidos: mesmo com a Warner Bros ano após ano oferecendo "caminhões de dinheiro" para que ela e a irmã, Lilly Wachowski, realizassem um novo Matrix, o que a levou de volta à franquia foi a dificuldade de lidar com a morte dos pais. “Uma noite, eu estava chorando e não conseguia dormir; meu cérebro então explodiu essa história inteira. Eu não podia ter meu pai e minha mãe, não podia conversar com a minha mãe; contudo, de repente, eu tinha Neo e Trinity”, conta a diretora.

A primeira ideia que essa fala transmite é a de encontrar força e inspiração em personagens de uma história, algo que define, em grande parte, o tom do filme. Basta ver a trama: sem entrar em maiores detalhes a fim de não estragar as surpresas, ela pode ser resumida como a procura por Neo e Trinity (Carrie-Anne Moss), movida mais por razões sentimentais do que práticas.

Esse caráter emotivo se reflete no fato de que o relacionamento entre os dois personagens principais ganha ainda mais importância do que na trilogia. Também se faz notar em detalhes técnicos, a exemplo de algumas boas cenas de ação focadas na dinâmica do casal, bem como a edição, que insere breves relances de cenas dos longas anteriores em momentos inesperados, às vezes com resultados bastante comoventes.

A segunda ideia contida no depoimento de Lana é a do embate entre a integridade artística e a ganância das grandes corporações, que, de maneira surpreendente, encontra espaço no roteiro. Valendo-se da metalinguagem, o script resolve o destino de Neo após Matrix Revolutions (2003) e, de quebra, critica a tendência da indústria de reciclar os mesmos produtos, ora apelando para o sarcasmo (em inúmeras piadinhas com o bullet time e com a Warner), ora para o cinismo ("por que alguém usaria um código velho em algo novo?", questiona uma personagem).

O filme consegue, ainda, refletir sobre temas políticos atuais. As máquinas, por exemplo, sequestram e subvertem determinado discurso, usando-o para seus próprios fins (e no mesmo instante vem à mente o conciso recado que Lilly mandou para Elon Musk e Ivanka Trump). O principal antagonista, por sua vez, defende que é mais fácil manipular sentimentos do que fatos, além de se gabar de ter à sua disposição um exército de soldados anônimos chamados bots.

Todavia, Matrix Resurrections se torna vítima do apelo à nostalgia que tanto questiona. Por exemplo: Morpheus (Yahya Abdul-Mateen II) e um outro rosto conhecido são necessários à trama; já outros dois personagens antigos têm apenas funções pontuais, sendo meros elementos do enredo (um deles sequer tem um desfecho satisfatório). Por fim, há um que retorna e desaparece sem qualquer consequência, apenas para agradar os fãs. De modo similar, os personagens novos são meras reedições de velhos. Bugs (Jessica Henwick) praticamente repete o Morpheus original.

Com quase todas as virtudes concentradas nos dois primeiros atos, o terceiro acaba se tornando genérico. As sequências de ação são impecáveis, ainda que nem de longe apresentem o caráter revolucionário de Matrix (1999); ao mesmo tempo, sua conclusão é previsível e, consequentemente, um tanto anticlimática.

Ainda assim, o objetivo principal acaba sendo cumprido: promover o reencontro de dois personagens icônicos, entre eles e com seu público. Parece pouco para uma obra tão aguardada. Mas é o bastante para sua autora e para boa parte dos fãs. Afinal, como diz Lana: "isso é o que as histórias fazem – elas nos confortam".


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