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Halloween Ends | Crítica
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Halloween Ends | Crítica

Entre boas novas ideias e escorregadas, filme fecha franquia de forma grandiosa e imperfeita

Gabriel Avila
Gabriel Avila
11.out.22 às 19h00
Atualizado há mais de 1 ano
Halloween Ends | Crítica
Halloween Ends/Universal Pictures/Divulgação

Em 2018, Halloween reviveu a franquia que começou 40 anos antes, com o clássico de mesmo nome. Desconsiderando todas as sequências e reboots que os separam, o longa fez tanto sucesso de público e crítica, que levou os produtores a encomendar uma trilogia. Após o medíocre Halloween Kills (2021), é a vez de Halloween Ends chegar aos cinemas, dessa vez com a difícil missão de encerrar a saga de Michael Myers, de uma vez por todas.

Só por essa introdução, fica clara quão ingrata é a tarefa do quarto filme dessa nova linha do tempo de Halloween. O longa precisa ser um bom filme por si só, fechar bem a nova saga e colocar um ponto final satisfatório na história iniciada em 1978. Pelo lado positivo, é possível dizer que o filme cumpre os três deveres. Já pelo negativo, há a conclusão que o grau de contentamento não é o mesmo em cada um dos casos.

A saída escolhida para surpreender velhos fãs e trazer possíveis novos espectadores foi apostar em uma abordagem ousadamente nova para a saga Halloween. A ruptura pode ser sentida desde a impactante cena de abertura, uma amostra de que a produção está interessada em levar a franquia para novos territórios.

Todo o desenvolvimento da trama, que se passa quatro anos após os eventos de Halloween Kills, serve ao propósito de mexer com a percepção do espectador a respeito do que está assistindo. Essa decisão pode desagradar fãs mais puristas que se atêm às ditas “regras” da saga. Porém, a necessidade de se apoiar nessas normas é subjetiva e segui-las cegamente não garante um resultado positivo – como a própria franquia já provou.

Com essa proposta, Ends é divisivo justamente por beber de fontes, no mínimo, inesperadas, que passam longe do terror, especialmente o subgênero slasher. Quem estiver aberto a essa nova abordagem é recompensado com uma tensão crescente que usa essa rebeldia a seu favor. Ao renegar a cartilha, qualquer dinâmica que o público conheça de outros carnavais se torna inútil para a ocasião. Uma imprevisibilidade preciosa em uma franquia que está no 13º filme.

O longa não tem pressa ao estabelecer uma atmosfera de angústia que cresce conforme o mal se aproxima de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), de sua neta Allyson (Andi Matichak) e dos demais moradores de Haddonfield. É uma aflição que faz com que várias das mortes ou perseguições provoquem nervosismo no público, algo que escapou à chacina apática que foi o foco de Kills.

Nesse ponto, Ends finalmente encontra um equilíbrio satisfatório entre a referência a momentos memoráveis do primeiro filme, mas sem se prender ao passado. Em uma das cenas mais simples, o diretor David Gordon Green recria planos consagrados no longa de 1978, mas com uma função clara dentro da trama. Mais do que forçar paralelos para agradar o fã, tal sequência se apropria da força de um momento no original para comunicar algo importante e mover a história adiante.

O interesse de Halloween Ends em buscar novos ares também faz bem à forma como ele aborda a questão do trauma. Presente nos dois primeiros filmes da nova trilogia, o tópico é desenvolvido de uma maneira que traz novas facetas à própria Laurie e aqueles ao seu redor. Um ponto positivo, considerando que as duas produções anteriores espremeram até a última gota do lado trágico na busca (ou fuga) por uma cura.

Halloween tropeça...

Por mais louvável que seja a chegada de boas ideias, Halloween Ends sofre com o planejamento e execução de várias delas. Os pontos altos do longa são amarrados de forma frouxa, ao ponto de precisar apelar constantemente a facilitações e até incongruências para chegar onde precisam.

É como se o longa contasse com uma grande dose de boa vontade por parte do público para aceitar certas escolhas. Um problema que afeta vários aspectos da história, mas prejudica especialmente a caracterização de seu núcleo principal, que toma atitudes inexplicáveis ou estúpidas, meramente para chegar à próxima etapa.

O roteiro, escrito pelo quarteto formado pelo diretor David Gordon Green em parceria com Danny McBride, Chris Bernier e Paul Brad Logan, cai em diferentes armadilhas que vez ou outra afetam a coesão do filme. Uma condução que se esforça pouco para justificar escolhas e ações, minando o engajamento do público com o surgimento de dúvidas que sequer deveriam existir a essa altura do campeonato.

Porém, é fácil perceber que parte desse gosto amargo vem da necessidade de lidar com o estrago feito por Halloween Kills. As escolhas feitas no longa de 2021 lançaram várias questões que o capítulo final foi incapaz de responder satisfatoriamente. O que se torna especialmente frustrante, considerando que Kills e Ends não parecem uma dobradinha planejada. A sensação é que havia ideia para apenas um filme, que acabou dividido para lucrar com lançamento de uma trilogia.

Um exemplo disso, infelizmente, é o próprio Michael Myers. Com o vácuo deixado pelo material guardado para o grande final, Kills o transformou em uma máquina de matar abertamente sobrenatural para preencher sua história com longas e grandiosas cenas de matança. Sem a aura de mistério sobre as limitações do assassino, Ends ficou em uma posição delicada em como abordá-lo propriamente.

A saída encontrada foi uma das novas ideias, citadas acima, que não podem ser melhor explicadas para evitar cair em spoilers. Um tratamento que funciona em Ends, mas que pode deixar a desejar a quem esperava encontrar respostas ou um passo adiante que justificasse a ruptura trazida pelo anterior.

... Mas levanta para matar novamente

Por outro lado, é notável como Halloween Ends supera todas essas dificuldades em uma conclusão tão potente que se torna difícil não perdoar os tropeços do caminho. O aguardado encontro final entre Laurie Strode e Michael Myers, o assassino que a atormenta desde o Dia das Bruxas de 1978, honra a responsabilidade que carrega.

Contestado nos longas anteriores, David Gordon Green comanda o momento com a brutalidade esperada, que abre mão de truques para focar na carga emocional do embate entre as duas grandes forças dessa franquia. É um desfecho que se destaca entre os grandes momentos da nova trilogia, em especial por provocar aflição genuína no expectador enquanto tudo se desenrola. Recurso valioso que se justifica na catarse que busca provocar dentro e fora das telas.

Dessa forma, a produção que supostamente fecha Halloween se torna uma representação perfeita do que a franquia se tornou após o inigualável primeiro filme. Com mais de uma dúzia de lançamentos, essa saga se manteve relevante entre pontos altíssimos e fundos de poço inacreditáveis (estou olhando pra você, Halloween: Resurrection).

Apostando tudo nessa dinâmica que confia mais nos sentimentos que provoca do que na racionalidade por trás do que conta, Halloween Ends torna digna a despedida de Michael Myers e Laurie Strode. É um adeus potente que torna difícil imaginar como o mal retornará a Haddonfield no futuro – porque se há uma lição a ser aprendida após 13 filmes, é que esse mal nunca morre.

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