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Entre Mulheres é um drama intimista sobre a vivência feminina | Crítica
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Entre Mulheres é um drama intimista sobre a vivência feminina | Crítica

Longa de Sarah Polley justifica indicação ao Oscar com atuações poderosas e temas importantes

Camila Sousa
Camila Sousa
02.mar.23 às 10h09
Atualizado há mais de 1 ano
Entre Mulheres é um drama intimista sobre a vivência feminina | Crítica
(Entre Mulheres/Universal/Divulgação)

Todos os anos, as estatísticas de violência contra as mulheres são assustadoras. São crimes que chocam a sociedade, mas infelizmente seguem acontecendo, apesar de diversas campanhas de conscientização. Lançando um olhar cru sobre o tema, Sarah Polley escreve e dirige Entre Mulheres, longa indicado ao Oscar 2023, que chega a ser doloroso de assistir em alguns momentos, mas conta com discussões importantes.

O filme apresenta uma comunidade simples, que sofre com constantes ataques contra mulheres. Durante a noite, homens entram em quartos, dopam as vítimas e as estupram, em ações que culminam em graves machucados e gravidez. Quando uma das garotas consegue denunciar o que está acontecendo, as mulheres do local enfrentam um dilema: o que fazer para que isso pare? É uma pergunta pertinente, que infelizmente o mundo real ainda não conseguiu responder.

Entre Mulheres é doloroso por mostrar como homens protegem homens: quando os criminosos são presos, vários saem em defesa dos colegas, e até se unem para pagar a fiança. Este é apenas um dos vários paralelos da trama com o mundo atual. Dentro de uma fotografia sépia e com um visual de época, tudo isso parece ultrapassado demais - até lembrarmos que há exemplos semelhantes todos os dias no noticiário, e que o próprio filme é situado em uma época contemporânea, apesar da estética de época.

A produção acerta ao colocar suas discussões em um clima intimista. Grande parte da história se passa dentro de um celeiro, com as mulheres decidindo o que devem fazer quando os agressores forem soltos. Há três caminhos possíveis: ficar e aceitar, ficar e lutar, ou sair e tentar a vida em um outro local, com outra sociedade. Esse é o pano de fundo para diversas discussões que seguem pertinentes.

Há quem questione por que as mulheres deveriam ir, já que aquele também é o lar delas. Há quem pergunte como elas vão sobreviver sem os homens. E o que fazer com as crianças? A partir de qual idade um garoto pode representar perigo, ou pode ser educado para ser melhor do que seu progenitor? Há ainda a questão religiosa, já que muitas acreditam que perderão o lugar no Céu, dependendo da atitude que tomarem. A base de Entre Mulheres é discutir tais temas com diálogos profundos, encabeçados por um grande elenco.

Claire Foy brilha como Salome, que tem uma reação raivosa a tudo o que está acontecendo. Em um dos momentos mais fortes do filme, a personagem diz que está disposta a se tornar uma assassina para manter suas filhas à salvo. Por outro lado, a Ona de Rooney Mara tem um olhar mais sensível para a situação e até questiona se os homens também não são vítimas da estrutura de poder estabelecida naquela sociedade. Também vale o destaque para Mariche, personagem de Jessie Buckley. Com um casamento difícil, ela representa a mulher que não acredita mais em mudanças, ou que não quer se permitir ter esperanças, apenas para depois ter que voltar ao inferno que chama de lar.

Outro ponto que merece destaque é como Entre Mulheres une diferentes personagens em seu debate sobre a vivência feminina. Dentro do celeiro, estão mulheres jovens, velhas, grávidas e crianças, que representam várias gerações e pontos de vista diferentes. Neste ambiente, o longa promove uma troca de ideias e vivências poderosa, que enriquece a discussão e a narrativa, justificando a indicação a Melhor Filme no Oscar 2023.

Entre Mulheres termina no momento certo, sem explicar demais o que acontece após o ponto catártico da produção. Há um ar de esperança e a mensagem de que é preciso união (entre homens e mulheres, inclusive) para uma sociedade mais justa. Ainda que seja agridoce sair do filme e voltar ao mundo real, com suas notícias diárias de feminicídio e violência, Sarah Polley alcança a difícil tarefa de deixar o espectador ao menos com um pouco de fé.

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