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Doutor Estranho no Multiverso da Loucura | Crítica
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Doutor Estranho no Multiverso da Loucura | Crítica

Sem medo de caminhar pelo horror e pelo ridículo, Marvel entrega uma de suas aventuras mais grandiosas e sinceras

Gabriel Avila
Gabriel Avila
04.mai.22 às 10h23
Atualizado há mais de 1 ano
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura | Crítica

Por se tratar de um filme com muitas responsabilidades dentro do universo Marvel, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura poderia facilmente se perder no emaranhado de tramas e personagens que se misturam na produção. Porém, nenhuma obrigação é levada mais à sério do que a de criar uma aventura épica e memorável. Mesmo com escorregadas pontuais, esse objetivo é alcançado em um longa que não tem medo de caminhar pelo horror e pelo ridículo.

Descrito como “o primeiro filme de terror da Marvel”, Multiverso da Loucura passou por várias mudanças em sua equipe criativa até que a direção caiu no colo de Sam Raimi. Conhecido por comandar clássicos de terror (Evil Dead) e de super-heróis (Homem-Aranha), o cineasta colocou todas as cartas na mesa e promoveu um dos mais belos, assustadores e sinceros espetáculos do MCU.

A união entre as duas maiores forças do cineasta surge justamente do encontro entre a magia e o multiverso. Ainda que o conceito de realidades paralelas já tenha dado as caras em produções como Loki e Homem-Aranha, é em Doutor Estranho 2 que ela ganha a dimensão grandiosa que merece.

O roteiro de Michael Waldron (Loki; Rick and Morty) é esperto o suficiente para ligar os dois temas de uma forma quase inseparável dentro da aventura. É assim que a visita a realidades alternativas se torna uma questão de necessidade e não um mero passeio turístico criado para lotar o filme de referências e easter eggs.

Essa urgência surge, em grande parte, pela fuga de um mal inspirado diretamente pelo cinema de horror, que finalmente dá as caras no universo Marvel. A menção ao terror em uma produção indicada para maiores de 14 anos pode parecer uma jogada de marketing, mas aqui a promessa se cumpre das mais variadas formas sem parecer deslocada ou fora de lugar.

Alguns dos momentos mais memoráveis da produção são justamente os de suspense, permeados por cenas inspiradas em variados subgêneros do terror. Atendendo às expectativas, Sam Raimi brilha e prova que é possível contornar um pouco da famosa “fórmula Marvel” com tensão, sustos e um pouco de sangue.

Esse horror também traz uma intensidade que é facilmente incorporada na urgência que permeia a trama. Não é raro que uma cena de ação desemboque em um momento apavorante, e vice-versa. A transição entre esses estilos é fluida e impacta justamente por deixar os heróis – e o público – sempre em alerta. Não à toa, a grande ameaça da história surge ora com toda a pompa de um ser poderoso, ora como um assassino de filme slasher.

A inesperada cereja desse bolo está na vocação de Raimi para o ridículo. São vários os momentos em que o diretor aposta em planos que podem parecer exagerados ou até bregas para a sensibilidade naturalista que passou a ditar o cinema blockbuster nos últimos anos. Divertidos, eles soam como um lembrete constante ao espectador de que esse é um mundo de fantasia e o convida a brincar de faz de conta ao invés de analisar regras da física em um combate entre seres mágicos.

Mesmo que grandes batalhas e sustos inspirados deixem o filme na frente de muitos projetos de super-heróis – e do próprio MCU –, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura também faz bonito no quesito dramático. As jornadas de Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) e Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) são cheias de traumas, perdas e sacrifícios, criando caminhos interessantes para a dupla e os que os cercam.

O lado emocional é tratado com seriedade pelo roteiro e, especialmente, pela direção. Os momentos dramáticos são fortes o suficiente para que qualquer um se conecte com a jornada dos personagens e, no caso do Doutor Estranho, parece um passo natural em contraste com uma origem marcada por cinismo e ironia.

Por outro lado, é nesse quesito em que o filme comete uma de suas maiores derrapadas. Em linhas gerais, é possível afirmar que ele mancha o arco de um de seus grandes personagens, mesmo que a produção tente contornar a escolha com várias explicações. É um gosto amargo que certamente vai dividir a opinião dos fãs, mesmo cumprindo a função estabelecida dentro da trama.

E por falar em deslizes, é quase impossível ignorar que a história tem uma barriga em um dos momentos mais aguardados pelos fãs. Não é segredo que o longa passou por um longo período de refilmagens, e os trechos encaixados posteriormente parecem pouco naturais para os rumos da história. Ainda que não desagradem por completo - em partes por trazer justamente o que parte do público quer ver - eles prejudicam o andamento de uma trama grandiosa, que precisou ser condensada em 126 minutos.

Mesmo com esses problemas, o elenco de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura encontra espaço para fazer um trabalho exemplar. Os nomes veteranos, como por Cumberbatch, Olsen, Benedict Wong, Rachel McAdams e Chiwetel Ejiofor se destacam por mostrar o amadurecimento de seus personagens – e, em alguns casos, por interpretar versões alternativas dos mesmos.

Outro destaque fica por conta de Xochitl Gomez, cujo carisma e empolgação encantam o suficiente para tornar America Chavez instantaneamente uma das queridinhas dos fãs. A jovem atriz impressiona por uma atuação cativante e chega ao MCU com o pé direito, como uma forte candidata a liderar as próximas fases desse universo.

Com conteúdo para alimentar meses de teorias e especulações, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura parece um prato cheio para quem quer imaginar sobre o futuro da Marvel. Fora das telas, o legado do filme pode ser a lição de que esse universo tem muito a ganhar caso ouse trazer novos ingredientes às receitas que servem ao público. Deixo meus cumprimentos ao chefe, que trouxe mais sabor ao prato do dia com pitadas de magia, horror e breguice.

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