Dead Island 2 ressurge com excelente matança de zumbis | Review
Espera de quase uma década é recompensada com RPG de ação bem-humorado, competente e banhado em sangue de mortos-vivos
É curioso como Dead Island é uma franquia inteiramente marcada por polêmicas de algum tipo. O primeiro emplacou um trailer emotivo e memorável para um jogo que não tinha intenção alguma de mirar no mesmo tom, conquistando status de propaganda enganosa. A continuação, intitulada Dead Island: Riptide, ficou conhecida por seu terrível busto de uma mulher zumbi na edição de colecionador.
Dead Island 2 não é diferente. A sequência foi anunciada com um teaser divertido em 2014, quando seria desenvolvido pelos alemães da Yager (Spec Ops: The Line). O projeto ficou três anos sofrendo em silêncio até eventualmente ser cancelado e tirado das mãos de seu estúdio original. O projeto desde então ficou no limbo após ser assumido pela Dambuster Studios (TimeSplitters), ressurgiu no final de 2022 e agora finalmente foi lançado. O mais surpreendente? Apesar da turbulenta jornada, o resultado é ótimo!
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Daquela versão inicialmente apresentada em 2014, só sobrou a ambientação da cidade de Los Angeles e a abordagem um pouco mais leve e sarcástica do pós-apocalipse zumbi. Na trama, os mortos-vivos tomaram a cidade, que foi sitiada pelos militares na esperança de conter o vírus. Sem chance de escapar, o jogador assume o papel de um sobrevivente que descobre ser imune e parte em uma jornada para descobrir como auxiliar nas pesquisas para uma cura.
Entre facas, tacos de baseball e marretas
O RPG de ação em primeira pessoa não é estranho para quem já se aventurou por algo como Borderlands, que também combina tiroteios com progressão de personagem, evolução de árvores de habilidades e mais. De início, há a possibilidade de escolher entre seis diferentes personagens com habilidades, características e personalidades distintas. Ainda assim, a jogabilidade em si se mantém praticamente a mesma entre todos – afinal, por grande parte da jornada, o foco é combate com quaisquer armas e ferramentas que podem ser encontradas pelo mundo.
Ainda que se torne ocasionalmente repetitiva, a porradaria é satisfatória o bastante para segurar a barra durante toda a experiência. É um pouco decepcionante que o vasto arsenal de armas brancas não seja muito variado na prática. Por exemplo, não há tantas diferenças mecânicas entre selecionar uma espada ou marreta. Ambas operam da mesma forma, o que reduz tudo à uma questão de números de dano, mas ainda assim qualquer escolha é a correta quando a carnificina é tão gratificante.
Dead Island 2 faz mortos-vivos do jeito certo, e é essa competência que eleva o jogo como um todo mesmo sendo uma obra que não apresenta nada de novo. Além de três versões comuns – Caminhantes, Rastejantes e Corredores -, o game conta com uma grande quantidade de mutações que ajudam a intensificar as batalhas, como zumbis bombados, monstros que cospem ácido e criaturas ágeis que te fatiam com garras gigantescas ou atordoam com gritos sônicos.
Melhor ainda, todos os tipos contam com versões especiais – variando entre danos elementais como fogo, químico e elétrico -, que estão muito bem espalhadas pelo mundo. As introduções de novos tipos de inimigos acontecem até nas horas finais do game. Os mortos-vivos daqui batem forte e contam com níveis próprios para garantir que o jogador nunca esteja realmente livre do perigo.
É verdadeiramente aterrorizante vagar por uma área e encontrar as variações Mortíferas dos monstros, capazes de te abater em um único hit. Ver inimigos assim sinaliza não estar pronto para explorar determinados lugares, mas os mais insistentes podem seguir em frente se dominarem bloqueios precisos e esquivas certeiras.
Essas mesmas mecânicas, que abrem a guarda dos zumbis para execuções, também acabam por reforçar a sensação de repetição da jogabilidade, já que são frequentes em praticamente todo embate. Infelizmente, isso é o que mais segura o game de atingir a excelência, mas todo o restante é mais do que ótimo para compensar.
Apocalipse ensolarado
Além de combate, o game também dá grande foco para a exploração. Em vez de ser um mundo aberto, como é tendência nos dias de hoje, opta por quebrar o mapa em várias áreas de tamanho médio. O trânsito entre as seções é livres, o que permite explorar tudo com calma, especialmente para conduzir missões secundárias. Um trecho em Beverly Hills, por exemplo, te permite entrar em várias mansões diferentes, caminhar por becos, áreas externas e muito mais.
O mundo também é preenchido por histórias paralelas que surgem de forma orgânica em mensagens de texto ou por meio do ambiente. A horda varia entre ambientes: os mortos-vivos que transitam por um estúdio de cinema são parte da equipe de produção dos filmes ou figurantes, enquanto os que vagam pelas fases de praia são ex-atletas, banhistas e turistas em geral.
Isso significa que o game tenta humanizar seus antagonistas? Definitivamente não. Muito pelo contrário, a matança de mortos-vivos é realizada com violência gráfica altamente detalhada, de encher os olhos de sangue e tripas. Golpeie um zumbi na nuca e seus olhos saltam para fora, pendurados pelas córneas. Objetos cortantes não só decepam braços, pernas e cabeças, mas também servem para remover mandíbulas e estripar as criaturas como se fossem peixes.
Em uma das execuções com as próprias mãos, nem mesmo a ausência de uma arma foi problema: o personagem atravessou o rosto do zumbi com o punho. Não é uma visão para os fracos de estômago, e mesmo os mais fortes poderão ficar um pouco enjoados ao pintar calçadas com crânios esmagados. Dead Island 2 já merece destaque por uma das melhores “sanguinolências” dos videogames, atrás apenas do remake de Resident Evil 2 em termos de nojeira e mórbida atenção aos detalhes intrínsecos da carne.
É difícil não esboçar um sorriso ao jogar uma bateria de carro em uma piscina e chutar mortos-vivos dentro para serem eletrocutados. Ou então enfrentar uma noiva zumbi fortona na pista de dança de seu casamento. Muitas das piadas também são mais sutis, como o fato de que o ponto fraco dos zumbis marombeiros são suas pernas – já que o tradicional rato de academia costuma malhar mais os braços e “pular” os dias de perna e cardio.
São detalhes assim que consagram a experiência de Dead Island 2: nada é exatamente original, porém tudo é feito com tanto zelo, atenção e divertimento que se torna uma das mais satisfatórias obras de zumbi dos games.
Nem todo jogo que se perde no limbo de desenvolvimento consegue sair de lá, e muitos refletem seu processo turbulento na obra em si. Dead Island 2 não é assim e apresenta sua visão de forma tão completa e confiante que nem dá para perceber que o estúdio tinha uma verdadeira bomba raivosa nas mãos. Sua história digna de superação é um lembrete de que games só podem alcançar a grandeza com tempo hábil e liberdade para serem desenvolvidos. Parece óbvio, mas é uma lição que a indústria frequentemente acaba esquecendo.
Dead Island 2 está disponível para Xbox One, PlayStation 4, PC, Xbox Series X | S e PlayStation 5. A review foi feita com base na versão de Xbox Series X, enviada pela distribuidora.