Dead Island 2 ressurge com excelente matança de zumbis | Review

Espera de quase uma década é recompensada com RPG de ação bem-humorado, competente e banhado em sangue de mortos-vivos

Arthur Eloi Publicado por Arthur Eloi
Dead Island 2 ressurge com excelente matança de zumbis | Review Dead Island 2/Divulgação

É curioso como Dead Island é uma franquia inteiramente marcada por polêmicas de algum tipo. O primeiro emplacou um trailer emotivo e memorável para um jogo que não tinha intenção alguma de mirar no mesmo tom, conquistando status de propaganda enganosa. A continuação, intitulada Dead Island: Riptide, ficou conhecida por seu terrível busto de uma mulher zumbi na edição de colecionador.

Dead Island 2 não é diferente. A sequência foi anunciada com um teaser divertido em 2014, quando seria desenvolvido pelos alemães da Yager (Spec Ops: The Line). O projeto ficou três anos sofrendo em silêncio até eventualmente ser cancelado e tirado das mãos de seu estúdio original. O projeto desde então ficou no limbo após ser assumido pela Dambuster Studios (TimeSplitters), ressurgiu no final de 2022 e agora finalmente foi lançado. O mais surpreendente? Apesar da turbulenta jornada, o resultado é ótimo!

Daquela versão inicialmente apresentada em 2014, só sobrou a ambientação da cidade de Los Angeles e a abordagem um pouco mais leve e sarcástica do pós-apocalipse zumbi. Na trama, os mortos-vivos tomaram a cidade, que foi sitiada pelos militares na esperança de conter o vírus. Sem chance de escapar, o jogador assume o papel de um sobrevivente que descobre ser imune e parte em uma jornada para descobrir como auxiliar nas pesquisas para uma cura.

Entre facas, tacos de baseball e marretas

Sem firulas, Dead Island 2 é comprometido com a matança de zumbis [Créditos: Divulgação]
Podendo ser aproveitado sozinho ou em até três jogadores, o game não tenta iludir de que seu propósito é puramente gameplay. A trama é uma mera justificativa para seguir de um lado para o outro, executada sem desenvolver seus personagens ou conflitos, por mais interessantes que sejam. Cutscenes chegam e vão rápido, entregando apenas o suficiente para saber onde ir em seguida. O cerne da experiência está em enfrentar as impiedosas hordas de mortos-vivos. Não se limita a uma mera fantasia de poder, mas também flerta com a sobrevivência.

O RPG de ação em primeira pessoa não é estranho para quem já se aventurou por algo como Borderlands, que também combina tiroteios com progressão de personagem, evolução de árvores de habilidades e mais. De início, há a possibilidade de escolher entre seis diferentes personagens com habilidades, características e personalidades distintas. Ainda assim, a jogabilidade em si se mantém praticamente a mesma entre todos – afinal, por grande parte da jornada, o foco é combate com quaisquer armas e ferramentas que podem ser encontradas pelo mundo.

Ainda que se torne ocasionalmente repetitiva, a porradaria é satisfatória o bastante para segurar a barra durante toda a experiência. É um pouco decepcionante que o vasto arsenal de armas brancas não seja muito variado na prática. Por exemplo, não há tantas diferenças mecânicas entre selecionar uma espada ou marreta. Ambas operam da mesma forma, o que reduz tudo à uma questão de números de dano, mas ainda assim qualquer escolha é a correta quando a carnificina é tão gratificante.

Dead Island 2 faz mortos-vivos do jeito certo, e é essa competência que eleva o jogo como um todo mesmo sendo uma obra que não apresenta nada de novo. Além de três versões comuns – Caminhantes, Rastejantes e Corredores -, o game conta com uma grande quantidade de mutações que ajudam a intensificar as batalhas, como zumbis bombados, monstros que cospem ácido e criaturas ágeis que te fatiam com garras gigantescas ou atordoam com gritos sônicos.

Melhor ainda, todos os tipos contam com versões especiais – variando entre danos elementais como fogo, químico e elétrico -, que estão muito bem espalhadas pelo mundo. As introduções de novos tipos de inimigos acontecem até nas horas finais do game. Os mortos-vivos daqui batem forte e contam com níveis próprios para garantir que o jogador nunca esteja realmente livre do perigo.

Dead Island 2 conta com impressionante variedade de zumbis – incluindo até entregadores de comida por app que deixam alimentos quando derrotados [Créditos: Captura de Tela]
As hordas nunca chegam perto de algo como Dead Rising, tanto em quantidade quanto facilidade de serem abatidas, mas são muito mais ameaçadoras. Ser agarrado por uma criatura ou cercado por um trio de caminhantes pode drenar seus pontos de vida em questão de segundos. O game brilha justamente por nunca deixar que você se sinta seguro. A luta pela sobrevivência se mantém presente mesmo em níveis mais altos e equipamentos poderosos.

É verdadeiramente aterrorizante vagar por uma área e encontrar as variações Mortíferas dos monstros, capazes de te abater em um único hit. Ver inimigos assim sinaliza não estar pronto para explorar determinados lugares, mas os mais insistentes podem seguir em frente se dominarem bloqueios precisos e esquivas certeiras.

Essas mesmas mecânicas, que abrem a guarda dos zumbis para execuções, também acabam por reforçar a sensação de repetição da jogabilidade, já que são frequentes em praticamente todo embate. Infelizmente, isso é o que mais segura o game de atingir a excelência, mas todo o restante é mais do que ótimo para compensar.

Apocalipse ensolarado

Dead Island 2 é um divertido passeio por Los Angeles tomada por mortos-vivos [Créditos: Divulgação]
Por mais que o projeto tenha ficado anos preso no limbo, é visível que a Dambuster tocou o desenvolvimento com muita atenção aos detalhes. Esse carinho é o grande responsável por emplacar Dead Island 2 como obra obrigatória aos fãs de zumbis.

Além de combate, o game também dá grande foco para a exploração. Em vez de ser um mundo aberto, como é tendência nos dias de hoje, opta por quebrar o mapa em várias áreas de tamanho médio. O trânsito entre as seções é livres, o que permite explorar tudo com calma, especialmente para conduzir missões secundárias. Um trecho em Beverly Hills, por exemplo, te permite entrar em várias mansões diferentes, caminhar por becos, áreas externas e muito mais.

O mundo também é preenchido por histórias paralelas que surgem de forma orgânica em mensagens de texto ou por meio do ambiente. A horda varia entre ambientes: os mortos-vivos que transitam por um estúdio de cinema são parte da equipe de produção dos filmes ou figurantes, enquanto os que vagam pelas fases de praia são ex-atletas, banhistas e turistas em geral.

De Hollywood até Santa Monica, game conquista com ambientes de tamanho médio, mas densos de detalhes e segredos [Créditos: Dead Island 2/Captura de Tela]
Dentre os mortos, alguns até têm nome próprio e achá-los traz algum tipo de história adicional ou recompensa. Um zumbi que costumava ser treinador de tênis continua vagando pela quadra e dá para encontrar suas chaves do carro ao matá-lo. São detalhes que ajudam a expandir a dimensão do apocalipse. Todos os cenários são repletos de cofres, salas e casas que pertencem a alguém que um dia foi vivo.

Isso significa que o game tenta humanizar seus antagonistas? Definitivamente não. Muito pelo contrário, a matança de mortos-vivos é realizada com violência gráfica altamente detalhada, de encher os olhos de sangue e tripas. Golpeie um zumbi na nuca e seus olhos saltam para fora, pendurados pelas córneas. Objetos cortantes não só decepam braços, pernas e cabeças, mas também servem para remover mandíbulas e estripar as criaturas como se fossem peixes.

Em uma das execuções com as próprias mãos, nem mesmo a ausência de uma arma foi problema: o personagem atravessou o rosto do zumbi com o punho. Não é uma visão para os fracos de estômago, e mesmo os mais fortes poderão ficar um pouco enjoados ao pintar calçadas com crânios esmagados. Dead Island 2 já merece destaque por uma das melhores “sanguinolências” dos videogames, atrás apenas do remake de Resident Evil 2 em termos de nojeira e mórbida atenção aos detalhes intrínsecos da carne.

Podendo desfigurá-los com porradas, é até difícil não sentir pena dos zumbis [Créditos: Dead Island 2/Captura de Tela]
O que ajuda a aliviar a violência é o tom leve e bem humorado do título. Em vez de tocar um apocalipse triste e sentimental à la The Last of Us ou The Walking Dead, todo mundo aqui parece tratar o fim do mundo como uma inconveniência, reclamando de perderem seus luxuosos estilos de vida em Los Angeles. O protagonista, por sua vez, vê o caos apenas como uma aventura, em que conhece gente nova e se diverte na matança. Assim, há uma aura quase que de festa no apocalipse, que contrasta muito bem com a tensão da jogabilidade, mas que casa perfeitamente com a ambientação ensolarada de Los Angeles. Isso também se manifesta no humor deliciosamente macabro e ácido.

É difícil não esboçar um sorriso ao jogar uma bateria de carro em uma piscina e chutar mortos-vivos dentro para serem eletrocutados. Ou então enfrentar uma noiva zumbi fortona na pista de dança de seu casamento. Muitas das piadas também são mais sutis, como o fato de que o ponto fraco dos zumbis marombeiros são suas pernas – já que o tradicional rato de academia costuma malhar mais os braços e “pular” os dias de perna e cardio.

São detalhes assim que consagram a experiência de Dead Island 2: nada é exatamente original, porém tudo é feito com tanto zelo, atenção e divertimento que se torna uma das mais satisfatórias obras de zumbi dos games.

Tem medo de palhaços? É pior ainda se foram zumbis com garras assassinas [Créditos: Dead Island 2/Captura de Tela]
A repetição do combate pode sim cansar, e a trama não tem nada de incrível, mas o game é bastante consciente de suas forças e fraquezas e conduz sua jornada focando no que melhor sabe fazer. O resultado é uma aventura de ritmo impecável, que conquista pela intensidade da sobrevivência, charme da exploração, bom humor e banho de sangue de revirar o estômago.

Nem todo jogo que se perde no limbo de desenvolvimento consegue sair de lá, e muitos refletem seu processo turbulento na obra em si. Dead Island 2 não é assim e apresenta sua visão de forma tão completa e confiante que nem dá para perceber que o estúdio tinha uma verdadeira bomba raivosa nas mãos. Sua história digna de superação é um lembrete de que games só podem alcançar a grandeza com tempo hábil e liberdade para serem desenvolvidos. Parece óbvio, mas é uma lição que a indústria frequentemente acaba esquecendo.

Dead Island 2 está disponível para Xbox OnePlayStation 4PCXbox Series X | SPlayStation 5. A review foi feita com base na versão de Xbox Series X, enviada pela distribuidora.

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