Em 1999, M. Night Shyamalan surpreendeu o mundo com o seu excelente O Sexto Sentido. Depois disso, a carreira do diretor foi marcada por erros (como o péssimo O Último Mestre do Ar) e outros acertos (como o bom Sinais). Porém, mesmo entre seus fãs mais fervorosos , havia o consenso de que o cineasta tinha se tornado refém de si mesmo e dos estúdios — oscilando entre malabarismos narrativos para tentar recriar o plot twist derradeiro que definiu suas obras e longas que atendiam somente a vontade de seus produtores. Contudo, em 2015, o cineasta parece que voltou aos trilhos com A Visita.
No inédito Fragmentado, o mesmo acontece.
A premissa gira em torno de três garotas adolescentes que são sequestradas por um homem que possui o Transtorno Dissociativo de Identidade, manifestando 23 personalidades distintas ao todo — e é nesse ponto que o filme brilha, já que James McAvoy consegue atuar primorosamente e alternar com a maior naturalidade do mundo entre os diferentes personagens, que vão de um homem metódico com mania de limpeza a uma criança de nove anos de idade, com uma mulher elegante no meio de tudo isso. É interessante notar como Shyamalan usa de um jogo de enquadramentos e espelhos para denotar a transição das diferentes facetas de Kevin, dando um ar maior de insanidade para tudo.
Outro destaque do elenco fica nas mãos de Anya Taylor-Joy, que vive Casey, uma das meninas sequestradas que é atormentada por um passado dolorido que a segue por onde vai. A atriz se entrega de corpo e alma para retratar os traumas de sua personagem, que aparece com muita delicadeza e uma melancolia constante. Betty Buckley também faz um bom trabalho como a Dra. Fletcher, psicóloga de Kevin, que decidida a provar para o mundo o potencial de seu paciente, acaba se deparando com os atos horrendos causados pelo homem.
A direção de Shyamalan é eficiente e o cineasta repete o que fez em A Visita e subverte novamente as expectativas de gênero — não raro, momentos de comédia quebram a tensão em momentos inesperados e o público reage imediatamente. Em termos de suspense, o diretor continua sabendo executar tudo de forma certeira, jogando com luzes e enquadramentos que deixam o espectador na ponta da cadeira e com a perna inquieta, ansiosos e nervosos pelo que está por vir.
Apesar de estar longe de ser tão impactante quanto O Sexto Sentido, Fragmentado é uma experiência tensa, divertida e assustadora executada por um elenco primoroso que renova a vontade de vermos mais e mais filmes escritos e dirigidos por Shyamalan, que agora está prometendo uma sequência do ótimo Corpo Fechado. Fico ansioso para ver isso.
Fragmentado chega aos cinemas em 23 de março.