Há 10 anos, em 2013, os jogos de terror passavam por um momento bem diferente. O gênero que ajudou a construir desenvolvedoras como Capcom e Konami havia sido deixado de lado pelos grandes estúdios, que passavam a buscar experiências de ação até em sagas como Resident Evil e Silent Hill. Se hoje franquias como essas passam por vida nova e macabra, é graças aos jogos indie que mantiveram o horror vivo — e Outlast é um dos mais influentes de todos.
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Lançado em 4 de setembro de 2013, o game inaugural da Red Barrels despertou o fascínio da internet ao entregar uma experiência de terror puro. Dez anos depois, ele ainda consegue tirar o fôlego e revirar o estômago ao conciliar suspense, silêncio e sanguinolência com maestria.
Gravando um pesadelo

Ainda que não siga a fórmula do subgênero, Outlast leva a sério a ideia de survival horror: no auge da era dos jogos de ação, esse te deixa completamente indefeso frente aos perigos e inimigos. A única forma de sobreviver é fugindo, se escondendo e administrando bem os recursos.
A ideia não era exatamente nova, tendo sido apresentada anos antes por Amnesia: The Dark Descent (2010), mas aqui foi levada ao extremo em uma jornada ainda mais intensa. Na escuridão do hospital psiquiátrico, tudo que Miles tinha para iluminar seu caminho era a visão noturna de sua câmera, que também servia para documentar os horrores que encontrava. O jogador, porém, não podia abusar da função, tendo que escolher os momentos certos para enxergar, para não gastar as baterias do dispositivo.
Essa abordagem do jornalista tateando no escuro não só é ótima como mecânica, justificando a escassez de recursos e a inaptidão do protagonista de lutar contra seus agressores, como também contribuí diretamente para a estética. Enxergar o mundo pelas lentes da câmera garantiu um ar de found footage ao título, bebendo de filmes como A Bruxa de Blair (1999) e, em especial, o terror espanhol [REC] (2007).
Por sua jogabilidade simples e aterrorizante, combinada com cenas que testavam o limite da violência gráfica nos games, Outlast se tornou um enorme sucesso na época. Não só foi elogiado pela crítica como também vendeu 5 milhões de cópias, além de capturar o imaginário do público de vários Youtubers e streamers que se aventuraram pelo título.

Em 2017, a franquia ganhou continuação com Outlast II, que trocou os corredores apertados do hospital psiquiátrico pelos campos abertos de uma cidade rural, seguindo um casal de jornalistas que cai no meio do Arizona ao investigar um caso de assassinato, passando a ser perseguidos por um culto de fanáticos. Ainda que não tenha capturado o mesmo público que o antecessor, a sequência impressiona com perseguições sufocantes e momentos marcantes, como navegar uma vila durante uma intensa chuva de sangue.
Um ano depois, a saga atingiu o marco de 15 de milhões de cópias vendidas. Outlast segue firme e forte até hoje, com a trilogia tendo sido vendida em pacote único, carinhosamente chamado de Outlast: Bundle of Horror, e com o game multiplayer assimétrico The Outlast Trials (2023) provando que a Red Barrels sabe como amendrontar até em um ambiente online.
Terror de impacto

Por sua grande popularidade, ajudou a impulsionar as noções de que ainda existe público para jogos do gêneros e de que deixar o jogador indefeso ajuda na tensão. Essas lições logo foram aplicadas em obras como Alien: Isolation (2014) e Layers of Fear (2016), mas quem mais se beneficiou do terreno fertilizado pelo game foram, curiosamente, Resident Evil e Silent Hill.
Em 2014, no auge da popularidade de Outlast, P.T. foi anunciado de surpresa com um vídeo em que vários jogadores reagiam ao game, assim como era comum ver em lives e reacts no YouTube. O game, que viria a ser a demonstração do infame Silent Hills, apostou em criar uma experiência macabra, em que o jogador pouco podia fazer além de explorar e interagir com o cenário, o que elevou a tensão do teaser jogável.

O jogo da Capcom adotou a perspectiva em primeira pessoa, praticamente inédita na saga, e ainda utilizou da mesma linguagem de found footage que Outlast. Seguindo os passos de P.T., uma demonstração foi lançada na época do anúncio, e esse teaser colocava o jogador para explorar uma fita perdida, controlando um cameraman desaparecido.
Hoje, os games de horror estão em um lugar bem melhor com fluxo constante de ótimos indies e blockbusters. Grandes franquias foram revividas, novos clássicos surgiram e há interesse em explorar o gênero em diversos escopos de produção. Mesmo que não tenha sido o único, Outlast merece ser lembrado pelo papel que desempenhou nessa retomada.
A trilogia Outlast está disponível para Xbox One, PlayStation 4, PC e Nintendo Switch, com compatibilidade com as plataformas modernas. Já o recente The Outlast Trials segue disponível apenas para PC, por enquanto.
Para manter o clima de retrospectiva, confira abaixo um Nerdplayer de Outlast, direto de 2013!