Mais um final de ano chegando e com ele mais um episódio de Call of Duty batendo cartão. No longevo rodízio de produtoras responsáveis pela série neste ano a missão coube à Sledgehammer, que cuidou também de CoD: WWII e Advanced Warfare.
O resultado é um título que, sim, preenche todos os requisitos para ser considerado um verdadeiro Call of Duty, mas que faz isso sem grandes novidades e sem impressionar de maneira geral. É um sucesso incontestável, mas também de pouco brilho.
Para esta incursão a Sledgehammer traz mais uma vez como cenário a Segunda Guerra Mundial e apresenta a equipe Vanguard, formada por especialistas de diferentes nacionalidades, personalidades e habilidades e que vão aparecer nos três modos principais do jogo: campanha, multiplayer e zumbis.
Apesar de fictícios, os personagens são baseados em figuras reais do grande conflito bélico e, por sua vez, também participam de situações que aconteceram de verdade, muitas já exaustivamente exploradas por jogos de tiro ambientados no período, incluindo outros CoD.

A campanha até se esforça para trazer ares de emoção e inovação ao mostrar uma história contada de forma recortada. Você começa vendo toda a equipe Vanguard em ação, mas depois vai aos poucos jogando em flashbacks com cada um dos personagens que mostram um pouco mais do passado e das motivações deles. O recurso serve como passaporte para várias batalhas marcantes da Segunda Guerra em muitos países diferentes, como França e Rússia.
Por um lado, o retorno ao embate das décadas de 30 e 40 possibilita recriar de forma envolvente e empolgante cenas já conhecidas e também se afastar de polêmicas com conflitos contemporâneos (como já vimos de monte nos últimos anos), mas isso vem ao custo de falta de novidade. A Segunda Guerra Mundial é um dos conflitos mais explorados por games de tiro e tudo acaba ficando um pouco repetitivo. Ao menos, como de costume nos últimos, o jogo está totalmente legendado e dublado em português, com um trabalho de voz muito bom e consistente (e com um punhado de vozes já bem conhecidas de fãs de games e animes).
Com 9 capítulos, cada um com cerca de 45 minutos de duração, praticamente como um episódio de uma série de TV, a campanha dura entre 7 a 8 horas e acaba servindo como uma introdução aos personagens para aí sim mergulhar mais fundo nas outras ofertas de Vanguard.
O modo multiplayer é disparado o pacote mais robusto do jogo, com uma grande seleção de mapas, armas, personagens e conteúdos extras para desbloquear logo de cara. De início já são 16 cenários disponíveis, alguns voltando de WWII, e todos os principais modos de jogo tradicionais de CoD, acompanhados de algumas novidades eletrizantes.

O Batalha de Campeões pode ser aproveitado em duplas ou trios e coloca essas equipes para enfrentar outras em mapas pequenos com um estoque limitado de vidas. Pessoalmente, gostei muito também do Patrulha, que é uma espécie de modo de captura de zona, mas com o diferencial de que o ponto a conquistar está em constante movimento, deixando os combates muito dinâmicos.
Toda a experiência multiplayer ganha ainda mais profundidade e personalização com a introdução do Ritmo de Combate, uma série de filtros que possibilita direcionar melhor o tipo de experiência que você busca em cada modo de partida. O filtro Tático prioriza uma experiência mais tensa e estratégica, com menos pessoas e muitos rifles de precisão, por exemplo. Em Assalto a experiência é mais equilibrada enquanto Blitz joga você em duelos absolutamente caóticos, com muitas pessoas simultaneamente.
A isso tudo você pode somar um sistema de níveis individuais para cada operador, uma quantidade enorme de opções de personalização das armas, skins e gestos para desbloquear, uma iminente integração com Warzone e inevitáveis adições de equipamentos e personagens para expandir o catálogo. Até dá para falar que Call of Duty: Vanguard carece de inovações, mas não dá para reclamar de falta de conteúdo no multiplayer.
Por outro lado, é possível sentir isso em Zumbis. Apesar de ter sido desenvolvido pela Treyarch, o mesmo estúdio que criou essa modalidade em World at War e deu continuidade em toda a série Black Ops e também em Cold War, de 2020, o modo parece raso em comparação com encarnações anteriores.

O formato é menos linear do que em outras versões e joga você em um hub no qual é possível escolher as missões, que sempre variam entre três tipos diferentes: Blitz, Colheita e Transmissão. Blitz é um teste clássico de sobrevivência em que basta impedir que os zumbis te destruam até o tempo acabar, Colheita impõe a missão de coletar runas de inimigos derrotados para depositar em um lugar enquanto em Transmissão é necessário escoltar um orbe flutuante e se defender dos ataques dos mortos-vivos.
Em pouco tempo acaba pesando a falta de variedade e, mesmo jogando ao lado de amigos, a experiência acaba cansando - no meu caso, por exemplo, o modo multiplayer tradicional sobre o qual falo um pouco antes acabou sendo muito mais tentador.
Algumas mudanças e novidades na jogabilidade do modo Zumbis até tornam a brincadeira mais personalizável, permitindo construir ‘builds’ diferentes em cada partida, mas é muito pouco frente a falta de mais opções de missões. Felizmente, é o tipo de coisa que pode ser facilmente resolvida com acréscimo de conteúdo em novas atualizações e quero acreditar que a Treyarch vai ter sim esse cuidado com uma modalidade criada e apoiada pelo estúdio há tantos anos.
No aspecto técnico é evidente o talento de sobra e os orçamentos generosos de todos os estúdios envolvidos. CoD: Vanguard é um jogo visualmente impressionante, com efeitos de luz incríveis, texturas super detalhadas e cenários grandiosos. No campo dos controles, por sua vez, o nível de minúcias também é alto e dá para configurar muitas opções e moldar a experiência de acordo com seus gostos, incluindo importantes opções gráficas de acessibilidade, como ajustes para daltônicos.
Call of Duty: Vanguard traz tudo que precisa para honrar o legado e o ritmo intenso que a série vem apresentando nos últimos anos. Porém, faz isso com pouco brilho e inovação, de forma quase burocrática. O maior esforço é percebido mesmo no modo multiplayer, enquanto a campanha é curta e o modo Zumbis carece de mais conteúdo e (espero!) deve crescer nos próximos meses.
Acho importante também pontuar o momento conturbado que a Activision vem passando também, com várias denúncias sobre problemas no ambiente de trabalho e processos em curso nos Estados Unidos. Obviamente, do lado de fora é difícil quantificar o peso dessas situações na produção de um game tão grande e elaborado quanto CoD: Vanguard, mas o resultado final é sim algo a se ficar de olho. Os custos pessoais para se chegar a um título como esse são válidos ante tudo o que tem sido revelado? Não cabe a mim analisar nesse momento, mas sinto que é responsabilidade de todos nós, fãs de jogos eletrônicos, acompanhar e cobrar para que essa indústria siga crescendo, mas de forma saudável e sustentável.