O gênero de horror sobrevive há anos pois sabe como conciliar suas várias vertentes sob o mesmo leque, sem se canibalizar. Mas o público tem suas preferências e discordâncias, especialmente em questões como o uso de jumpscares, os famosos sustos repentinos.
Por conta de obras que apelam para o choque, jumpscares passaram a ser vistos como recursos de produções inferiores, usados à exaustão em obras que não sabem trabalhar suspense, temática macabra ou terror psicológico. Rob Savage, cineasta por trás de Boogeyman - Seu Medo é Real, no entanto, acredita que essa reputação é injusta.
“Quero defender os jumpscares porque acho que têm uma reputação ruim, mas não há nada melhor do que um bom susto”, afirma o diretor da adaptação da obra de Stephen King durante coletiva de imprensa acompanhada pelo NerdBunker. Segundo Savage, o susto e a tensão psicológica não são opostos, mas sim aliados: “Um precisa do outro para funcionar”.
“Se você tem subtexto, se o público está investido nos personagens e você realmente tem algo a dizer, acho que é totalmente justificável ter algo pulando do armário para te dar um susto daqueles. Ambos são divertidos.É como administrar uma válvula em que é preciso saber quando soltar e quando segurar a tensão. [...] É super gratificante quando você prepara um susto grandioso, ai senta para assistir junto com o público e vê todos pulando e jogando pipoca pelos ares.”
Boogeyman combina esses dois aspectos. Ao mesmo tempo que o filme é repleto de sustos que te fazem pular da cadeira, há também muita atenção às relações quebradas de uma família tomada pelo luto e ainda perseguida pelo Bicho-Papão.

“Improvisamos muito e brincamos bastante com o roteiro. Esse elenco é ótimo para isso. Todo dia tentavamos fazer a melhor versão das cenas, com bastante vida. Discutimos como garantir que não fosse só mais uma família de filmes de terror. Queríamos autenticidade, e usamos como referência o longa Gente Como a Gente (1980) para isso.”
O cineasta garante que o longa melhorou por conta de um processo colaborativo com os atores. “Muitos dos melhores momentos, dos mais divertidos e das falas de partir o coração foram improvisados pelo elenco, e íamos apenas fazendo anotações ao ritmo em que prosseguimos”, afirma Savage. “Esse filme é cheio de vida graças a esse elenco e ao processo de ir testando novas ideias”.
Família no set, trauma nas telas

“Fomos ao Aquário juntos, e tivemos vários momentos de união como uma família. Me lembro que tinha uma cozinha de brinquedo em uma cena no escritório da psicóloga, e todos nós ficávamos brincando com ela nos bastidores. Por algum motivo eu só fazia torrada com abacate, e acabamos criando um restaurante que só servia isso.Ficamos trocando vários presentes, como torradas de abacate e meias. Hoje eu dei um bracelete e um bichinho de pelúcia para Sophie, é como demonstramos carinho entre nós. E eu nem gosto tanto de torrada de abacate, mas é algo fofo que temos entre nós e é algo que irmãs teriam também.”
Para comprovar a história da atriz de 10 anos, Sophie Thatcher mostrou aos jornalistas que de fato estava usando um bracelete que dizia “Torrada de abacate”. É curioso vê-la aos risos e se acabando de fofura com os comentários de Blair, visto que Thatcher rapidamente vem criando uma reputação de interpretar jovens intensas em obras de gênero. Tanto em Yellowjackets quanto em Boogeyman, suas personagens são marcadas por perda, raiva e dor internalizada.

“No caso de Sadie, ela está em um estágio tão único de luto, que apenas lidar com esse sentimento é algo que torna a relação com pai dela em algo tenso e complicado, além da dificuldade de cuidar de sua irmã mais nova.Você cria empatia por ela desde cedo. Definitivamente foi o que aconteceu comigo logo que li o roteiro. Quis fazer com que o luto dela parecesse vívido e real, já que cada um enfrenta isso de formas diferentes. Não há uma única forma de lidar com o luto.”
No fim das contas, ainda que seja um filme de monstro, é visível que o maior esforço do diretor e do elenco foi na construção de bons personagens. O Bicho-Papão tem visual amedrontador, se espreita pelas sombras e dá bastante sustos, mas o foco da trama é o luto da família, muito bem atuado por atores talentosos.
“Fico feliz que conseguimos criar personagens tão vívidos e reais”, ressalta Sophie Thatcher ao diretor Rob Savage. “Estou orgulhosa de todos nós, e muito disso porque você nos apoiou e por todos os ensaios que fizemos. Foi assustador de início, não sabia o que esperar e nem imaginava como seria trabalhar com uma atriz tão nova. Ao assistir pela primeira vez, eu só me senti muito orgulhosa.”
Boogeyman - Seu Medo é Real chega aos cinemas brasileiros em 1º de junho.