Um lobo e um cervo se perderam de suas famílias no meio da floresta e precisam se ajudar para encontrar o caminho de volta para casa – o que dá início a uma amizade improvável. Essa descrição pode soar como a história de alguma animação antiga e triste da Disney, mas, na verdade, é a premissa do novo indie Blanc.
Desenvolvido pelo estúdio francês Casus Ludi, o jogo é uma aventura com pegada artística e contemplativa que, apesar de apresentar conceitos e ideias chamativas, tropeça ao apostar em uma fórmula repetitiva.
Simplicidade é o foco
Os protagonistas de Blanc são um filhote de lobo e um pequeno cervo que precisam se ajudar para rastrear o caminho de volta até suas famílias. O objetivo é usar a cooperatividade entre eles para superar quebra-cabeças e avançar pelos cenários.
A experiência pode ser jogada solo ou com outra pessoa, com cada um controlando um dos bichinhos. O segundo jogador pode se juntar a qualquer momento, basta conectar um controle extra.
Ao jogar sozinho, você precisa controlar os animais ao mesmo tempo em um esquema de comandos similar ao aclamado Brothers: A Tale of Two Sons. O lado esquerdo do controle é o lobo, enquanto o direito é o cervo. Com isso, a jogabilidade é levemente desafiadora de maneira divertida, em que nosso próprio cérebro se confunde em vários momentos de forma proposital.
Jogar solo e controlar os protagonistas ao mesmo tempo combinou mais com as ideias e o propósito de Blanc, que é entregar uma jornada contemplativa, silenciosa e relaxante. Isso faz com que a adição de um co-op, na verdade, ofusque um dos pontos fortes da experiência.

A jornada possui obstáculos pelo caminho, e é dever do jogador superá-los. Também é preciso entender que cada animal apresenta características diferentes, o que reflete na jogabilidade. O cervo salta grandes alturas e é mais pesado, enquanto o lobo é menor, se esgueira por locais pequenos e pode roer cordas.
Apesar disso, os quebra-cabeças de ambiente são relativamente simples, consistindo sempre na ideia de saltar plataformas e empurrar ou puxar objetos para liberar o caminho. Assim, as soluções são parecidas, o que cai em uma sensação de repetitividade durante todo o game e prejudica a imersão.
Com localização em português brasileiro, a história é curta e direta ao ponto, sem qualquer diálogo e com uma pitada de inspiração no clássico Journey. Todas as cenas são silenciosas e focadas na relação dos dois protagonistas, que chegam a encontrar outros animais durante a jornada e aprendem lições além do objetivo de retornar para casa.
No entanto, o desenvolvimento do laço de amizade é um tanto acelerado, com a dupla confiando um no outro em poucos segundos de jogo. Fica a impressão de que poderiam ter momentos que aprofundam mais os sentimentos de cada um.

Blanc aposta em um visual minimalista com cenários preto e branco em um inverno rigoroso, o que resulta em áreas congeladas e lotadas de neve. As ambientações são de uma beleza que foca em simplicidade, gerando uma atmosfera calma e relaxante que se encaixa à proposta da história.
A trilha sonora intensifica essa sensação com músicas calmas e levemente alegres, que estabelecem um clima de aventura. Além de prezar o silêncio em alguns momentos da exploração para aumentar o foco nos sons de ambiente da natureza, uma vez que é um dos temas do game.
Belíssimo, porém limitado
Com uma duração de duas a três horas, Blanc é um jogo curto e limitado que não tenta explorar além daquilo que propõe na premissa. Isso não é algo necessariamente ruim. O problema é que as ideias cativantes e chamativas são pouco desenvolvidas, dando a impressão de que está faltando algo para tornar a experiência mais única e marcante.
A história de uma amizade improvável entre um lobo e um cervo é uma aventura singela e cheia de simbolismos, mas que se perde em uma estrutura repetitiva e pouco inventiva.
Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Gearbox.
Blanc está disponível para Nintendo Switch e PC.