Amor e Morte, nova série de suspense da HBO Max, encerrou sua trama instigante, porém o real destaque fica por conta da atuação inspirada de Elizabeth Olsen, a Feiticeira Escarlate da Marvel.
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Ainda que garanta bons momentos de entretenimento para quem gosta de true crime, a série não é capaz, por si só, de se destacar no mar de dramas baseados em crimes reais, deixando a sensação de déjà vu, algo aliviado apenas pelas boas atuações do ótimo elenco e pelo cuidado da produção.
Amor e Morte aborda o mesmo caso de assassinato de outra série recente

Esse sentimento é intensificado pelo fato de Amor e Morte ser a segunda série, em menos de um ano, a abordar o mesmo caso: o brutal assassinato de Betty Gore por Candy Montgomery, duas donas de casa do Texas.
A série Candy, estrelada por Jessica Biel e disponível no Star+, opta pelo horror. A produção intercala cenas chocantes de homicídio com tarefas banais e perturbadoras realizadas pela assassina. Já Amor e Morte adota uma abordagem naturalista, com uma estrutura mais linear, focando em aprofundar os personagens.
A pergunta que fica é: até que ponto essa obsessão por crimes reais ainda despertará interesse? Pelo menos no caso de Amor e Morte, as performances e a produção de alta qualidade afastam a história do sensacionalismo barato e garantem um valor que vai além do crime.
A trama é repleta de ironias, começando com a sonhadora Candy Montgomery (Olsen) convencendo o pragmático Allan Gore (Jesse Plemons) a se envolver em um caso extraconjugal, mantido em segredo para não abalar, especialmente, a esposa psicologicamente frágil de Allan, Betty (Lily Rabe) .
Ambos estabelecem regras claras e se encontram apenas em um motel fora da cidade, sempre no horário de almoço e durante a semana. Candy até mesmo prepara refeições para ganhar tempo. A forma como ambos lidam com a situação é curiosa, transmitindo uma certa inocência em seus encontros atrapalhados.
Amor e Morte foca em qualidade para fugir do sensacionalismo

Tudo muda quando Betty Gore é encontrada morta em 13 de junho de 1980, e Candy é julgada pelo assassinato. Diferente dos programas sensacionalistas sobre crimes reais, Amor e Morte retrata pessoas comuns envolvidas em uma situação terrível que elas mesmas criaram.
O roteirista David E. Kelley adaptou a minissérie a partir do trabalho dos jornalistas Jim Atkinson e John Bloom, que coescreveram uma série de artigos em 1984 para a revista Texas Monthly, além do livro Evidence of Love, de 2018. Kelley é conhecido por sua prolífica e versátil carreira, com destaque para o sucesso Big Little Lies.
Embora um subúrbio de Dallas seja muito diferente da costa da Califórnia, Kelley encontra histórias semelhantes em ambos os casos: mulheres obcecadas em manter as aparências, impulsionadas por uma raiva reprimida que as leva a cometer atos de violência. Em BLL, o grupo começa em conflito e depois se une em solidariedade. Aqui, é o oposto: Candy e Betty são membros da mesma comunidade até que suas escolhas as separem e algo terrível choca a comunidade.
Olsen é o grande destaque

Após surpreender como uma bruxa enlutada em WandaVision, Olsen continua a mostrar seu talento em Amor e Morte. Sua interpretação de Candy irradia inocência e vivacidade, trazendo vida à personagem. Na versão de Kelley, Candy é como um gato curioso que se meteu em problemas, acreditando que pode conseguir o que quer através de charme e pura força de vontade, sem pensar nas consequências.
Os primeiros episódios, focados na construção da relação entre Candy e Allan e na luta de ambos para lidar com as emoções conturbadas nascidas do romance proibido, são os mais envolventes da série. É claro que todos querem ver o crime, a investigação, o drama do tribunal, mas é na primeira metade que a série realmente conquista o público.
Conforme a trama avança, Olsen assume uma postura mais rígida e até parece envelhecer diante dos nossos olhos. À medida que Candy enfrenta seu julgamento por assassinato, sua determinação em seguir em frente e manter uma postura corajosa assume um tom sinistro. Em uma cena, ela até repreende a filha por mencionar a possibilidade de condenação durante o jantar. Ela se recusa a acreditar que pode mesmo ir parar na cadeia.
Vale assistir

O melhor de tudo é que a série dá espaço para que todo o elenco brilhe. Observamos a fragilidade de Betty, a devoção não expressa do marido Pat, interpretado por Patrick Fugit (de Quase Famosos), o temperamento explosivo de um advogado local (Tom Pelphrey) tentando fazer seu nome e o senso de dever pessoal de um promotor público (Michael Cyril Creighton) determinado a fazer o que é certo.
Importante ressaltar que Kelley está mais interessado no motivo das ações do que em quem fez o quê. Os advogados discutem as personalidades dos acusados e exploram a fragilidade psicológica de Betty. A série até se assemelha a outro drama criminal da HBO Max, Mare of Easttown, que coloca a psicologia dos personagens no centro da trama.
Embora Amor e Morte seja competente ao explorar um caso de crime real, a série acaba se perdendo em meio a um campo já saturado de dramas semelhantes. A narrativa pode parecer arrastada, principalmente pela falta de reviravoltas emocionantes, algo acentuado pelo final previsível. Ainda assim, a série ainda merece ser assistida, principalmente pela brilhante performance de Olsen, que continua a provar seu talento a cada trabalho.
Todos os episódios de Amor e Morte estão disponíveis no HBO Max.