Não há dúvidas de que A Casa do Dragão, primeira série derivada de Game of Thrones, teve um começo impactante.
Além de destacar como a família Targaryen está rodeada por disputas de poder e tragédias (leia nosso recap aqui), o primeiro episódio se tornou a maior estreia da HBO nos EUA, com 10 milhões de espectadores.
Após este início promissor, a série se voltou para as tramas políticas no segundo capítulo, estabelecendo as bases para o que vai acontecer com diversos personagens no futuro.
[Spoilers de “O Príncipe Canalha” a partir daqui]

O capítulo começa mostrando uma rápida sequência de guerra, indicando que a série pretende equilibrar melhor os momentos de ação e política. Se a produção original pecou ao ter várias temporadas focadas em intrigas, e um final totalmente voltado para a ação, A Casa do Dragão parece entender que é melhor dosar estes dois lados de Westeros, ao invés de apostar em cada um deles separadamente.
Prova disso é que a cena de ação é cortada rapidamente para uma reunião do Pequeno Conselho, que começa a discutir como vai lidar com aquilo. Por ser uma batalha na região conhecida como Degraus, o combate afeta especialmente Corlys Velaryon (Steve Toussaint), que ressalta sua perda de navios e homens durante a reunião. O momento também deixa claro como as decisões do rei Viserys (Paddy Considine) são questionadas a todo o momento.
Como disse seu irmão, Daemon Targaryen (Matt Smith), no primeiro episódio, os membros do conselho percebem que o soberano não sabe o que fazer em diversos momentos, e se beneficiam disso, influenciando Viserys a tomar decisões que lhes convém. Outro ponto interessante da cena é a participação da princesa Rhaenyra (Milly Alcock), após ser nomeada como herdeira do Trono de Ferro. Como já ficou claro, a jovem tem suas opiniões sobre o reinado do pai e, já neste segundo capítulo, começa a mostrar sua personalidade, afirmando que os Targaryen deveriam entrar na disputa com os dragões para demonstrar poder.
O momento que se segue é incômodo, com o rei agindo de forma condescendente com a filha, e deixando sua opinião de lado. Já aqui, A Casa do Dragão mostra que Rhaenyra deve enfrentar muita resistência para se tornar a rainha de Westeros. Afinal, se nem o próprio rei, que a nomeou como herdeira, leva suas palavras em consideração, que dirá os outros nobres e líderes das casas do continente?
Esse sentimento continua na sequência seguinte, quando Rhaenyra escolhe Sor Criston Cole (Fabien Frankel) para fazer parte da Guarda Real. Mão do Rei, Otto Hightower (Rhys Ifans) discorda da escolha por Criston não fazer parte de uma grande família. Para ele, que sempre pensa em política, é importante ter as maiores casas de Westeros representadas na Guarda, algo que pode significar melhores alianças no futuro. Para a princesa, no entanto, Criston é o melhor por ser o único com experiência real de batalha.
O interessante é que as duas escolhas possuem pontos positivos e não é possível dizer que uma está certa e outra errada. São apenas pontos de vistas diferentes, que ressaltam como a franquia continuará apostando em narrativas mais maduras e menos “preto no branco”.
Enquanto tudo isso acontece, A Casa do Dragão segue desenvolvendo a questionável relação entre o rei Viserys e a jovem Alicent Hightower (Emily Carey). Praticamente oferecida pelo pai, Otto, para ser uma “companhia” para o governante, Alicent recebe uma proposta para se casar com o soberano e se tornar a nova rainha de Westeros. Olhando friamente, Viserys tomou a decisão que se esperava dele: um rei que se tornou viúvo, deve tomar uma nova esposa, especialmente para estabilizar o reino. No entanto, há várias camadas aqui.
Além da diferença de idade (que poderia ser bem pior, como o próprio episódio mostra), fica claro que Alicent não está feliz com o enlace. Ela, como alguém de uma casa menor cujo pai tem várias ambições, está cumprindo seu papel: encontrar um bom marido para aumentar o status do nome Hightower. A missão é muito bem-sucedida, mas parece ter um custo alto para a garota. Até este episódio, Alicent parece não ter a permissão de tomar suas próprias decisões. Fazendo, inclusive, um paralelo com a história de Rhaenyra, a jovem é levada pelas escolhas dos homens, que consideram seu papel importante, mas não o suficiente para ter opinião.

É neste momento que as narrativas das amigas se encontram. As duas sofrem dos mesmos males, mas lidam com eles de formas diferentes: enquanto Rhaenyra prefere a rebeldia, Alicent abaixa a cabeça e cumpre seu “dever”, de uma forma que deixa um gosto amargo na boca. No entanto, é importante ressaltar que a série não representa a jovem Hightower como uma personagem fraca. Ao contrário, ao ser sutil em diversas cenas, a produção ressalta como é preciso ter muita força também para aceitar toda a situação. Esse traço de personalidade será importante para o público se relacionar com a futura rainha no decorrer da história.
Antes do final do episódio, A Casa do Dragão entrega uma bela sequência protagonizada por Rhaenyra e sua dragão, Syrax. Mostrando que tem talento para resolver problemas e liderar, a princesa encerra, sem banho de sangue, uma disputa entre o Mão do Rei e o príncipe Daemon. Chega a ser emocionante quando Syrax sai do meio das nuvens comandada pela jovem. Ainda que dragões sejam mais comuns aqui do que na série original, a franquia realizou um ótimo trabalho ao criar toda uma mística ao redor deles, que se mantém. Syrax é grandiosa, um símbolo de força dos Targaryen, de Rhaenyra e de toda a franquia Game of Thrones.
Como um jogo de xadrez medieval, A Casa do Dragão termina seu segundo episódio pontuando vários momentos importantes, que terão grandes implicações no futuro. O capítulo também é importante para mostrar, mais uma vez, que a série não é a mesma coisa de Game of Thrones. O foco aqui é a família Targaryen que, com todas as intrigas internas e fogo de dragão, tem história suficiente para segurar uma boa narrativa.
A Casa do Dragão ganha novos episódios aos domingos, na HBO e HBO Max.