Não é incomum que séries de Hollywood passem por um desgaste com o passar do tempo. Há vários exemplos de produções que começaram grandiosas, mas não souberam encerrar suas histórias. Felizmente, esse não parece ser o caminho de Westworld. Embora tenha perdido grande parte de seu brilho em uma terceira temporada estranha, o seriado voltou com outra energia em seu quarto ano, mais segura da história que quer contar ao público.
Há uma parcela de fãs que não voltou para a nova temporada, após a experiência confusa da terceira leva de episódios. Lançada em 2020, no começo da pandemia de COVID-19, a temporada 3 de Westworld levou os personagens para o que seria o “mundo real” dentro da história. A escolha gerou muita expectativa, após duas temporadas situadas em parques da Delos, mas a promessa não se cumpriu.
Com essa frustração como pano de fundo, o quarto ano estreou com a responsabilidade de retomar o bom caminho, ao mesmo tempo em que teve menos pressão para ser um grande sucesso. O resultado foi recompensador para quem continuou. A nova temporada retomou o que tornou a série um fenômeno: discussões profundas sobre o que significa ser humano, cenas grandiosas, boas atuações do elenco e, claro, muitas reviravoltas.
Estes momentos de virada, em particular, foram os responsáveis por recuperar a força da história. Ainda que o fã de Westworld esteja habituado a “questionar a natureza da realidade”, foi gratificante ver como a produção voltou a construir sequências inesperadas. Em mais de um momento, os espectadores puderam contemplar reviravoltas dignas da primeira temporada, lançada em um longevo 2016 - quando o mundo e a cultura pop eram bem diferentes.
Westworld voltou, com muita força, a questionar o que faz de cada um de nós humanos. Seriam as nossas escolhas? Nossas almas? Nossa forma de encarar o mundo? Tudo isso é colocado em cheque da forma mais criativa possível e, quando surge uma resposta, ela é agridoce. É curioso ver tais dilemas após o auge da pandemia de COVID-19. Em sua quarta temporada, a série da HBO ressalta como as pessoas podem ser autodestrutivas, e há um sentimento diferente ao assistir isso após ver como a humanidade se comportou diante de um vírus que tomou conta do mundo. Em vários episódios, a realidade distópica proposta pelo seriado não pareceu tão distante assim.
Mas, enquanto o público pensava sobre a própria existência, Westworld mostrou que ainda têm fôlego, ao virar o jogo e questionar também os anfitriões. Ora, se eles são produtos da mente humana, não seriam eles tão falhos quanto nós? Essa resposta é dada aos poucos ao longo de oito episódios e, quem esperava um final feliz, vai descobrir que o roteiro escolheu a dureza da maturidade, ao invés de entregar o que gostaríamos de ver.
As cenas mais emocionantes da nova temporada também funcionam pela entrega do elenco. Além dos sempre competentes Jeffrey Wright, Thandiwe Newton, Ed Harris e Tessa Thompson, vale destacar a atuação de Evan Rachel Wood como Christina, uma personagem extremamente doce, que lembra Dolores em vários momentos, mas é diferente nos detalhes. Rachel Wood faz um ótimo trabalho ao apresentar uma jovem sensível e assustada, de um modo quase infantil, mas ao mesmo tempo forte e determinada - características que remetem à jornada dos próprios anfitriões.
Também é importante citar o trabalho de Aaron Paul, de volta ao papel de Caleb Nichols. Humano no meio da causa dos anfitriões, Caleb protagoniza um dos momentos mais emocionantes e devastadores da quarta temporada, em uma cena capaz de fazer qualquer um perder as esperanças de algo melhor. Paul evolui o personagem com novas relações e, até o último episódio, se torna a âncora emocional que faz a quarta temporada ser tão delicada, ao mesmo tempo em que é tão intensa em sua mensagem.
O sentimento ao chegar ao final do episódio oito é que valeu a pena continuar essa jornada ao lado de Jonathan Nolan e Lisa Joy. Não há dúvidas de que a terceira temporada foi um (grande) tropeço, mas os novos capítulos provam que a dupla está novamente alinhada com a mensagem que quer passar para o público. E, ao que tudo indica, ela não será positiva nem para humanos, nem para os anfitriões.
Todas as temporadas de Westworld estão no catálogo do HBO Max.