Com o lançamento de What If…?, a Marvel criou um produto bastante seguro que revisita os consagrados filmes de seu universo sob a perspectiva de realidades alternativas. E por mais que a série animada tenha nascido com sucesso quase garantido, a produção do Disney+ faz bonito mesmo quando sai da zona de conforto e usa suas infinitas possibilidades em favor da história a ser contada. O sexto episódio é um ótimo exemplo dessa força.
O capítulo que estreou nesta quarta-feira (15) parte de um princípio simples: o que aconteceria se Killmonger, o vilão de Pantera Negra, salvasse Tony Stark do atentado que levou à criação do Homem de Ferro?
[Atenção! A partir daqui, spoilers do sexto episódio de What If…?]
O sexto episódio de What If…? não perde tempo e logo em seus primeiros minutos estabelece a trama e mostra o momento em que Erik Killmonger muda o universo Marvel para sempre ao interromper a origem do Homem de Ferro. É curioso que com essa sinopse, o caminho mais fácil seria mostrar como seria esse mundo sem a presença do herói. Mas essa história não está interessada no fácil.
Em uma montagem rápida, somos apresentados a tudo o que o mundo “perdeu” sem o Homem de Ferro, desde a união dos Vingadores até o sacrifício contra Thanos. Com essa questão resolvida, a história leva seu foco para onde realmente quer: Erik Killmonger. Inicialmente, o roteiro brinca com a possibilidade de que nesta realidade ele tenha se regenerado e abandonado os desejos de tomar Wakanda à força. Ideia que não demora muito a ser abandonada, dando início ao complexo jogo de xadrez do vilão.
O plano é simples: se infiltrar nas Indústrias Stark para criar um incidente internacional com seu país de origem. Para isso, ele ganha a confiança de Tony ao não apenas impedir o atentado, como revelar que Obadiah Stane estava por trás de tudo. Dessa forma ele se torna o braço direito de Stark e ganha espaço para desenvolver um projeto antigo: um drone de combate capaz de lutar guerras no lugar dos humanos.
Neste momento, o episódio aproveita para fazer uma referência ao mundo real. Ao ouvir de Tony Stark que o projeto parece um mecha aos moldes de Gundam, Killmonger responde que gosta de anime. Essa piadinha rápida é uma referência tanto ao fato de que o ator Michael B. Jordan, intérprete do personagem no filme e em What If…? é otaku, quanto às várias comparações entre o traje do personagem e o de Vegeta em Dragon Ball Z.
Piadinhas metalinguísticas à parte, o plano de Killmonger segue com uma questão crucial: os drones precisam de vibranium para funcionar corretamente. Assim, ele convence Tony Stark a comprar o metal do contrabandista Ulysses Klaue, dando início a um incidente internacional com Wakanda. Isso porque o próprio Pantera Negra aparece para interromper a compra e acaba morto pelas mãos de Killmonger — que também mata James Rhodes, colocando o exército dos EUA contra a nação africana.
A partir daí tudo acontece muito rápido: Tony Stark descobre o que aconteceu graças ao J.A.R.V.I.S. e é morto por Killmonger em uma das cenas mais emblemáticas do episódio. Não exatamente pela morte do herói, mas pelo sutil comentário social de que apesar de serem “órfãos tentando fazer o certo pelos pais”, eles nunca poderiam ser vistos como iguais. Killmonger não diz, mas deixa para o público refletir sobre quais são as “diferentes batalhas” que a sociedade impõe a ele.
O vilão prossegue com seu plano até finalmente chegar em casa, onde também convence o rei T’Chaka a entrar em guerra contra os Estados Unidos. O resultado é uma batalha entre os exércitos de Wakanda e um exército de drones que secretamente estavam sob controle do rapaz. No fim, ele ganha a confiança dos Wakandanos e se torna o novo Pantera Negra.
Quando Killmonger passa pelo ritual, ele visita o Reino dos Mortos e se encontra com T’Challa. O belo momento dá aos dois a chance de ter o embate moral que marcou o filme do Pantera Negra em 2018, mas com as posições invertidas. Dessa vez Killmonger realmente conseguiu o que queria e promete ao primo que vai usar o poder que tanto buscava para mudar o mundo.
Resta saber se ele conseguirá fazer isso, já que a cena seguinte revela dois grandes problemas: o primeiro é que o exército dos EUA aprovou um bombardeio em massa que pode simplesmente destruir Wakanda e boa parte do território africano. Já o segundo é a união entre Shuri e Pepper Potts, duas mulheres geniais ligadas diretamente a duas das vítimas de Killmonger. Um gancho que certamente deve ser retomado na próxima temporada de What If…?.
O sexto episódio chega ao fim com louvor, contando uma história completa e cheia de reviravoltas sem deixar o ritmo derrapar. Nesse quesito, se torna até perdoável o enorme buraco encontrado na própria premissa, afinal de contas a história não explica como Killmonger chegou a Tony Stark. Não que tudo precise ser ditado com detalhes, mas até aqui todos os episódios explicaram como suas mudanças chegaram ali — seja Yondu se perdendo em Wakanda ou a sabotagem impedir que Steve Rogers receba o soro de supersoldado.
Ainda assim, o capítulo faz bonito ao trazer Killmonger, um dos vilões mais queridos, de volta ao universo Marvel. O personagem aproveita cada segundo dos holofotes que recebe, principalmente pela entrega do ator Michael B. Jordan, que retorna ao papel com muita naturalidade.
É tocante também o inesperado tributo a Chadwick Boseman no episódio. Com a triste coincidência da morte do ator no mundo real, o encontro com ele no pós-vida se torna ainda mais tocante e poderoso. E mais uma vez através de What If…? — e das artes —, ele prova a veracidade do famoso discurso de T’Challa em Capitão América: Guerra Civil: “na minha cultura, a morte não é o fim”.
What If…? ganha novos episódios às quartas-feiras.