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Os Banshees de Inisherin equilibra bem o riso e o choro | Crítica
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Os Banshees de Inisherin equilibra bem o riso e o choro | Crítica

Indicado ao Oscar conquista com história de “término de amizade”

Arthur Eloi
Arthur Eloi
17.fev.23 às 12h16
Atualizado há mais de 1 ano
Os Banshees de Inisherin equilibra bem o riso e o choro | Crítica
Os Banshees de Inisherin/Divulgação

À primeira vista, Os Banshees de Inisherin parece ter a tradicional prepotência que o Oscar costuma valorizar. É um filme europeu de nome difícil, ambientado no interior da Irlanda no início do século 20, e inteiramente carregado por diálogos. O tratamento é injusto nesse caso, e desmerecê-lo como mais um filme “caça-Oscar” significa ignorar um conto divertido e emocionante sobre amizade, legado e propósito.

Dirigido e escrito por Martin McDonagh (Três Anúncios para um Crime), o longa se passa em uma pequena ilha na costa da Irlanda, e segue a dupla Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson). Os dois sempre foram melhores amigos, com uma rotina regada à idas ao pub e conversas bêbadas… até que Colm simplesmente decide que não gosta mais de Pádraic, e que quer fazer algo mais ambicioso com sua vida.

A trama acompanha a perspectiva de Pádraic, que simplesmente é incapaz de entender o que fez para merecer ser cortado da vida do melhor amigo, e custa até a acreditar que ele está falando sério. Na jornada para tentar reconquistar Colm, o filme transita majestosamente bem entre o humor, o absurdo, o existencialismo e o drama de superar um coração partido.

Excelentes performances de Colin Farrell e Brendan Gleeson carregam Os Banshees de Inisherin [Créditos: Divulgação]
Os Banshees de Inisherin lida com todos os vários sentimentos conflitantes que um término de relação traz. Colin Farrell acerta em cheio ao interpretar Pádraic como alguém relutante em abrir mão de alguém que lhe foi tão importante. O protagonista soa até um pouco insistente ao tentar abordar o ex-amigo de várias formas diferentes, por mais doloroso que sempre seja levar cortadas de Colm. Pádraic é esperançoso, e isso faz com que quebre a cara várias vezes.

O que faz a dinâmica entre os dois funcionar tão bem é o fato de que Brendan Gleeson fica a altura de Colin Farrell. Seu Colm é ranzinza e insano, mas também tomado pelo desespero existencial de ver sua curta vida começar e acabar da mesma forma. Por mais que suas atitudes oscilem entre birras infantis e violentos delírios, é difícil não simpatizar com sua dor silenciosa, de perceber estar vivendo uma vida vazia - mesmo que isso não seja bem a realidade.

O longa manifesta em seus protagonistas o conflito entre grandes ambições e os pequenos prazeres cotidianos, e desperta no espectador a reflexão: qual é o segredo para uma vida bem vivida? E como conciliar quando duas pessoas têm respostas diferentes para essa pergunta?

Pegos no meio do conflito entre os protagonistas, personagens secundários ajudam a dar a dimensão da rivalidade entre os ex-amigos [Créditos: Os Banshees de Inisherin/Divulgação]
A excêntrica ambientação da pequena ilha irlandesa logo se prova fundamental para a trama funcionar tão bem. Além das paisagens de encher os olhos, com campos verdes, praias melancólicas e chalés rústicos, a compacta comunidade que ali vive cria pressão para uma resolução entre Colm e Pádraic. É a típica cidade pequena repleta de enxeridos, que se vêem arrastados para uma intriga pessoal por conta dessa curiosidade toda.

Figuras como o estranho jovem Dominic Kearney (Barry Keoghan) ajudam a intensificar essa rivalidade. O garoto faz um meio-campo entre os ex-amigos, e sua presença e pensamentos muitas vezes não fazem sentido, o que ressalta a infantilidade da situação toda. Mas o verdadeiro destaque entre os personagens secundários é, sem dúvidas, Siobhán (Kerry Condon), a irmã de Pádraic e âncora de sanidade para a disputa toda. Presa no meio desse conflito contra sua vontade, ela serve poucas e boas para ambos os lados.

Como a única pessoa minimamente sã no meio de uma cidade surtada, Siobhán cria conexão imediata com os espectadores que, juntos - público e personagem -, vão percebendo que a situação é muito mais séria do que só uma birra entre amigos.

Os Banshees de Inisherin é um filme bastante acessível, mesmo com sua ambientação excêntrica, humor tradicionalmente britânico e diálogos caricatos. E é o fato de ser acessível que o torna ainda mais poderoso, discutindo temas pesados e complexos através de situações divertidas, viradas dramáticas e momentos melancólicos de contemplação.

Graças a suas atuações impecáveis, cenários grandiosos e solitários, e excelente domínio do drama e da comédia, é facilmente um dos melhores filmes entre os indicados ao Oscar 2023, capaz até de levar os mais céticos dos espectadores por uma jornada que começa em riso e termina em choro.

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