Não é todo dia que você vai ao cinema assistir a um único longa e acaba ganhando “de brinde” pelo menos dois outros, totalmente não relacionados ao primeiro. O Predador é isso: um compilado de ideias diferentes que acabaram virando um filme só.
Existe um esforço por parte de Shane Black, diretor e um dos roteiristas, para trazer alguns elementos da origem da franquia, como violência extrema, sangue, tripas e até algumas referências diretas a frases clássicas que amamos, como o famoso “Get to the Choppa!”. Entretanto, são tantas subtramas acontecendo, que essa essência acaba sendo diluída.
Em suas quase duas horas de duração, O Predador tenta fazer comentários sobre aquecimento global, efeitos da guerra em soldados, bullying, transtornos do espectro autista e cria explicações pseudocientíficas para justificar cada passo dos personagens. O roteiro parece ter esquecido que quem vai para o cinema ver um filme de ação quer ver justamente isso: ação. E quando ela de fato acontece é extremamente divertido.
Em termos de cronologia, o longa só leva em consideração os dois primeiros filmes de franquia: Predador (1987) e Predador 2 (1990). Porém, ele reaproveita alguns conceitos de outros títulos, como algumas armas e os “cachorros” alienígenas de Predadores (2010). Em meio à toda a bagunça do filme, os “predadoggos” são uma das adições que realmente criam momentos tensos e engraçados — uma das poucas ocasiões em que o alívio cômico funciona de verdade.
No resto do filme, mesmo as piadas que tentam trazer um humor parecido com o Predador original — especialmente com os personagens de Thomas Jane e Keegan-Michael Key — acabam soando forçadas ou ficando perdidas em meio a diálogos que não avançam a trama e só servem para explicar as intenções dos vilões.
O elenco inteiro é mal utilizado, jogado entre as subtramas. Um dos que parecem ter o potencial mais desperdiçado é Sterling K. Brown (This is Us; Pantera Negra), que vive um antagonista humano, que nunca parece ameaçador de verdade para o espectador, por conta da presença de um outro antagonista: um alienígena com sede de sangue de mais de três metros de altura. Ele se torna só mais um contratempo que não acrescenta tanto à história.
Havia potencial para criar algo marcante: o diretor Shane Black já tinha provado que conseguia fazer um bom filme com a essência dos anos 1970 e 1980 em Dois Caras Legais (2016). Ele também conhecia a franquia Predador a fundo, por ter participado como ator do longa original de 1987. Mas toda essa experiência foi mal utilizada e O Predador não consegue ser o grande retorno que esse monstrengo horroroso merece.