Logo do Jovem Nerd
PodcastsNotíciasVídeos
Morte, Morte, Morte | Crítica
Filmes

Morte, Morte, Morte | Crítica

Suspense brinca com o egocentrismo da Geração Z em mistério de assassinato intrigante e sedutor

Arthur Eloi
Arthur Eloi
06.out.22 às 10h00
Atualizado há mais de 2 anos
Morte, Morte, Morte | Crítica
Morte, Morte, Morte/Divulgação

Como Pânico deixou bem claro, o assassino em um slasher é sempre alguém que você conhece. Logo, o subgênero de maníacos sanguinários é inteiramente construído na sensação de desconfiança pelo próximo. No caso de Morte, Morte, Morte, há bastante para desconfiar quando todos são suspeitos, egocêntricos e cheios de segredos - a receita perfeita para um caos de alto nível.

No novo filme de Halina Reijn (Instinto), um grupo de jovens se reúne em uma casa no interior dos EUA, para se abrigarem de um furacão em grande estilo: com uma festa. Durante a noite de bebidas, intrigas e drogas, eles decidem começar uma partida do jogo Morte Morte Morte (também conhecido como Lobisomem/A Cidade Dorme/Among Us, você escolhe)

Alguém é escolhido como assassino e precisa fazer vítimas sem ser descoberto pelos outros, mas a brincadeira vira realidade após uma morte genuína. Trancafiados no local pela intensa tempestade, não demora para um se voltar contra o outro em busca de desvendar quem foi o responsável.

Por si só, a premissa de isolamento já é forte o bastante para sustentar um mistério de assassinato. Mas a grande sacada do longa é ter como protagonista um grupo de jovens ricos da Geração Z, com bocas afiadas para militar e cuspir veneno em rápida sucessão. O que torna tudo tão divertido e carismático é o quão detestável são todos os personagens, completamente comprometidos com dramas interpessoais e picuinhas mesmo em meio à sanguinolência.

Vale pontuar, porém, que Morte, Morte, Morte. não se trata realmente de um slasher, por mais que se aproprie da estética. O longa deixa a desejar nas mortes e na tensão, e prefere seguir mais por um caminho de suspense à la Agatha Christie. Há momentos sangrentos e chocantes, mas são poucos, espaçados e geralmente pouco impactantes. É um filme de terror que não tira o sono de ninguém, mas que com certeza deixa os espectadores investidos em identificar o que raios está acontecendo.

Pense no ato final de qualquer um dos capítulos de Pânico, quando os ânimos já estão acalorados e os dedos começam a ser apontados para todos os lados. Morte, Morte, Morte é inteiramente construído dessa forma, e a satisfação é descobrir gradualmente os podres que cada um dos jovens querem esconder.

Com apenas uma única locação e poucos truques, o excelente elenco é o que faz tudo funcionar. O casal Sophie (Amandla Stenberg) e Bee (Maria Bakalova) serve como os olhos dos espectadores, mas mesmo elas guardam segredos sobre possíveis mentiras e traições. Jordan (Myha'la Herrold), que claramente inveja o relacionamento das duas, complica a vida de Bee com passivo-agressividade que não é das mais passivas.

David (Pete Davidson), o melhor amigo de Sophie, é um viciado em drogas que inveja a aparência de Greg (Lee Pace), par romântico de Alice (Rachel Sennott) - especialmente por ele estar em um relacionamento morno com Emma (Chase Sui Wonders). Não à toa há certa preocupação quando uma partida de Morte Morte Morte é sugerida: com tantas relações turbulentas, não tinha como algo bom sair dali.

Partido do sarcástico texto de Sarah DeLappe, todo o elenco faz um trabalho admirável de caracterização, com personagens que mais parecem saídos de uma bolha progressista do Twitter.

Mesmo quando as coisas ficam mais pesadas, eles continuam tentando enfatizar certa consciência social para manter as aparências, como qualquer discussão acalorada nas redes sociais costuma ser. Se você já perdeu tempo o suficiente no site, com certeza identificará muitos dos termos, dinâmicas e picuinhas bobas que tornam o longa tão deliciosamente ácido.

A direção de Halina Reijn é a outra parte que consagra a experiência e a impede de cair em uma simples crítica do egocentrismo da Geração Z. A cineasta cria um ambiente sedutor e divertido, que torna esse disfuncional grupo de amigos atraente o suficiente para que muita gente cogite aguentar as partes ruins. Na hora de deturpar essa fantasia, o faz de forma orgânica, que segura a curiosidade do espectador até os momentos finais.

Morte, Morte, Morte pode não ser o filme mais assustador do ano, mas compensa isso com um mistério genuinamente intrigante, construído a partir de um grupo adoravelmente detestável que simplesmente não consegue calar a boca.

O longa mira em construir algo cheio de charme e acidez, e tira tudo isso de letra, em especial graças ao seu ótimo uso do pouco espaço que tem, e de seu excelente elenco de jovens narcisistas. Na reta final, quando as respostas enfim são reveladas após muito sangue e discussões acaloradas, ver o quão dramática essa noite virou deixa qualquer um com um sorriso no rosto - e questionando as próprias amizades.

Encontrou algum erro neste conteúdo?

Envie seu comentário

Veja mais

Utilizamos cookies e tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossas plataformas, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
Para mais informações, consulte nossa Política de Privacidade.
Capa do podcast