Com quase três horas de duração, John Wick 4: Baba Yaga precisa se reinventar a todo momento para nunca ficar maçante. Em uma de suas melhores cenas, quando o protagonista de Keanu Reeves é caçado por todos os mercenários e assassinos de aluguel pelas ruas de Paris, o longa demonstra que a busca de referências para surpreender o público enfim chegou aos videogames.
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Com a única missão de chegar ao outro lado da cidade antes do amanhecer, John Wick se vê entrando em uma casa comum, repleta de matadores sanguinários. A câmera sobe e passa a observar tudo dos céus, ao ritmo que o protagonista limpa quarto por quarto com pistolas, armas incendiárias e algumas boas porradas. Para os entusiastas de jogos indie, violência vista de cima é uma visão familiar, muito bem explorada em jogos como Hotline Miami, Ruiner, Midnight Fight Express e muitos outros.

Originalmente lançado em janeiro de 2019, o game é obra do estúdio sueco VRESKI. Com câmera de cima, o título abraça ambientação digna de um filme de John Woo, repleto com câmera lenta e tiroteios em restaurantes. A trama se passa em Hong Kong, e segue um ex-policial em busca de vingança pela morte de seu parceiro.
A jogabilidade consiste em utilizar tudo à disposição para limpar prédios e ambientes lotados de criminosos. A visão superior te permite planejar os tiroteios de forma estratégica, mas a execução é frenética, e te força a pensar em como controlar o fluxo constante de inimigos, administrar munição e ainda como utilizar o ambiente tanto na defensiva quanto na ofensiva. Todos esses elementos do game são o que tornam a cena de John Wick 4 tão cativante, ainda mais considerando que tudo é rodado em takes longos que destacam a habilidade e agilidade de Keanu Reeves no papel.
Colocar o espectador para assistir tudo de cima dá uma noção maior do espaço que Wick precisa controlar, e do tamanho do desafio que enfrenta para poder sair com vida. Talvez um filme inteiro nessa perspectiva não funcionasse, mas a inserção na intensa reta final se provou uma excelente uso de referência, que eleva a obra como um todo ao invés de roubar a atenção para si.

“Se falta criatividade, é importante focar até desvendar porque você sempre acaba fazendo algo que nunca fez antes. Cenas rodadas de cima nunca foram muito legais para gente que trabalha com iluminação e coreografia, já que podem ficar cansativas muito rapidamente.Mas aí vi esse jogo que preciso citar, acho que se chamava The Hong Kong Massacre, que tinha essa perspectiva superior repleta de flashes dos disparos das armas. Isso me deixou pensando em como rodar uma cena em que as luzes das armas e luzes piscando podem deixar tudo parecendo um quadro de Traço Mágico, o que é visualmente bem legal.”
O cineasta ainda afirmou que a estética de videogame sempre foi algo presente na franquia:
“Foi uma forma diferente de elevarmos a ação, e ainda mantermos aquela pegada de videogame pela qual John Wick é conhecido, inspirado por jogos de tiro em primeira pessoa.”
Música, balas e neon

O neo noir surgiu ainda na década de 1970, com modernizações e reinterpretações da estética e dos clichês dos filmes noir do início do século 20. Mas foi só a partir de 2011 que o gênero encontrou um sucesso cult graças à Drive (2011), filme de Nicolas Winding Refn protagonizado por Ryan Gosling.
De lá para cá, histórias de violência e desolação ambientadas em mundos neon se tornaram especialmente populares nas redes sociais. Esse fenômeno ajudou a impulsionar John Wick e muitas outras obras, mas a conexão com os jogos vai além.

Ainda assim, faz sentido que John Wick 4 tenha olhado para algo um pouco mais obscuro. Ao longo da quadrilogia, Chad Stahelski e sua talentosa equipe buscaram homenagear todo tipo de produção, mas deram atenção especial ao cinema de ação asiático. No quarto filme não é diferente, seja por extensas seções no Japão ou até mesmo pela presença de Hiroyuki Sanada e Donnie Yen, duas lendas do cinema de gênero asiático.

É possível que The Hong Kong Massacre ganhe um tico de popularidade agora que foi assumido como referência para um dos principais blockbusters do ano. O game está disponível para PC, Nintendo Switch e PS4.
Quem acabar curtindo, vai ficar ainda mais feliz em saber que o próximo projeto do estúdio VRESKI nada mais é do que outro shooter inspirado nos filmes de John Woo - mas, dessa vez, em primeira pessoa. Quem sabe esse vindouro título não vira referência para outro filme de Stahelski, não?
John Wick 4: Baba Yaga segue em cartaz nos cinemas brasileiros.
Fonte da entrevista: SlashFilm