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Ação empolgante não salva série de Halo de início morno
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Ação empolgante não salva série de Halo de início morno

Confira as nossas primeiras impressões da série do Paramount+

Gabriel Avila
Gabriel Avila
24.mar.22 às 09h40
Atualizado há cerca de 3 anos
Ação empolgante não salva série de Halo de início morno

A série de Halo é o mais novo exemplar de uma adaptação de videogame. Esse tipo de produção conta com um histórico desastroso ao ponto de deixar fãs com o pé atrás, transformando a empolgação em medo e desconfiança. Ainda que tome medidas para não se tornar a mais nova decepção dos gamers, a produção do Paramount+ tem um início morno que não aproveita as vastas possibilidades um universo muito rico, criado ao longo de vários livros e jogos.

Halo deixa claro logo na primeira cena que não tem tempo a perder. Sem muito contexto, o espectador testemunha um grupo de formidáveis guerreiros conhecidos como Spartans travando uma batalha sangrenta contra monstruosos alienígenas do Covenant no território de um planeta rebelde que se opõe ao Comando Espacial das Nações Unidas (UNSC). Não se engane, se parece confuso é porque é mesmo.

Criada por Kyle Killen e Steven Kane, a produção joga o público no olho do furacão para explicar e desenvolver seus conflitos com a história em movimento. O problema é que na pressa de colocar suas várias tramas para andar, o roteiro não fortalece sua base o suficiente para que o espectador se sinta familiarizado com esse universo.

Na ânsia de apresentar muitas tramas e um grande elenco de personagens – cada um com sua dose de dramas, dúvidas e dores –, a produção não oferece contexto o suficiente para que o público possa se importar com várias das portas que são abertas. Um exemplo claro está na forma como o roteiro dá pistas de que uma certa organização pode não ser tão benéfica quanto parece. Qualquer impacto da surpresa se perde quando uma possível reviravolta pode mudar os rumos de algo que sequer foi estabelecido.

Na tentativa de parecer mais complexa e profunda, a série acaba sofrendo também com um ritmo fragmentado. Muitas vezes seus pontos altos, cheios de ação ou suspense, dão lugar a conversas tediosas que servem apenas para dar uma contextualização apressada para que a trama possa andar — isso para não falar dos péssimos momentos cômicos sem timing algum.

Essa interrupção constante impede também um mergulho mais profundo na mitologia de Halo, já que os dois episódios iniciais tocam em vários temas clássicos de ficção científica de forma pouco inspirada. Fãs de sci-fi já estão mais do que acostumados a ver guerras entre espécies, avanços tecnológicos inimagináveis e tramas políticas envolvendo planetas e sistemas, e simplesmente colocá-los em tela não é o suficiente para que pareça novo e interessante.

Nesse ponto, chega a ser curioso que os criadores tenham dito que mal olharam para os jogos por querer que a série fale com um público maior. O que se vê em tela é justamente o contrário, pulando etapas básicas do estabelecimento desse mundo como se o público dominasse seus conceitos e desdobramentos. Se por um lado essa decisão pode agradar aos fãs antigos, por outro exige uma dose extra de foco e paciência por parte de quem está de chegada.

A frustração só não toma conta das primeiras horas da série porque ela conta com truques interessantes na manga. Quando a correria desacelera e a história ganha a atenção devida, esse universo e sua mitologia ganham espaço para serem explorados.

No centro dessa batalha brutal e tecnológica em uma avançada versão do século XXVI, temos Master Chief (Pablo Schreiber), lendário soldado Spartan que passa a questionar suas crenças e motivações após a missão que dá início à série. Figura principal da franquia, é ele quem centraliza todos os temas da série, que vão desde os horrores da guerra ao eterno questionamento sci-fi do que nos torna humanos.

É impossível ignorar o quanto a jornada do Master Chief começa parecida com a do protagonista de The Mandalorian, mas ao menos são apresentados caminhos inéditos que o pistoleiro de Star Wars não trilha. Em Halo, a busca pela própria identidade sob o pano de fundo de uma guerra galáctica traz um desenrolar imprevisível e dramático que a produção do Disney+ nunca esteve muito interessada em abordar.

Isso se reflete nos vários núcleos da série, que dão tons de cinza a um embate que, ao menos nos games, era retratado em um maniqueísmo de heróis humanos versus vilões alienígenas. Uma semente plantada na relação entre John-117 (o nome verdadeiro do Master Chief) com a misteriosa doutora Catherine Halsey (Natascha McElhone) pode florescer e levar a história para caminhos interessantes.

O verdadeiro ponto forte da série está em seu visual. Halo abandona qualquer vergonha e investe na estética que consagrou os games em toda a sua glória. Ainda que o CGI deixe a desejar em alguns pontos, a mistura entre efeitos visuais e práticos é feita com um esmero ao ponto de deixar os combates grandiosos e hipnotizantes.

Se os Spartans são descritos quase como perfeitas máquinas de matar, a série faz questão de mostrar isso colocando os guerreiros para suar. As batalhas protagonizadas pelo esquadrão do Master Chief são empolgantes e dão a dimensão do poder dos heróis e dos vilões.

As grandiosas batalhas e a forma como a série aborda a velha questão do que nos torna humanos são a verdadeira força de Halo. Com uma segunda temporada já encomendada, a produção tem nas mãos a chance de mudar o curso e abrir mão dos excessos genéricos. A guerra ainda não está perdida, mas para salvar o dia vai ser necessário mais do que um punhado de Master Chiefs.

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