Perlimps reflete a vida real com fábula animada | Crítica

Filme do brasileiro Alê Abreu encanta com espetáculo visual e sonoro, mas enfrenta problemas de ritmo

Gabriel Avila Publicado por Gabriel Avila
Perlimps reflete a vida real com fábula animada | Crítica Perlimps/Vitrine Filmes/Divulgação

O filme animado Perlimps marca o retorno do diretor brasileiro Alê Abreu ao cinema, dez anos após o lançamento do aclamado O Menino e o Mundo (2013). Em seu novo projeto, o cineasta cria uma fábula contemplativa que reflete sobre questões da vida real em uma aventura agridoce marcada pelo equilíbrio entre altos e baixos.

O longa apresenta sua grande força logo nos primeiros minutos, em uma abertura apoteótica que inunda os sentidos para transportar o público ao fantástico universo em que vivem os protagonistas Claé e Bruô. Membros de reinos diferentes, eles são enviados em uma missão para encontrar os Perlimps, criaturas mágicas capazes de impedir que os maldosos gigantes destruam o bosque em que vivem.

A chegada a esse mundo se faz empolgante e encantadora logo de cara, graças a uma das mais belas animações dos últimos tempos. O peculiar design das paisagens e criaturas que habitam o bosque garantem que o passeio por ele seja convidativo, como se sempre houvesse algo a se descobrir por ali.

O senso de aventura e descobrimento é conduzido com capricho pela equipe de animação liderada por Sandro Cleuzo (Klaus), que cria um cenário tão belo e convidativo que justifica os esforços dos protagonistas. Ao testemunhar em primeira mão a magia desse lugar, é fácil entender o esforço para que ele não seja destruído. Uma deixa aproveitada por Lorenzo Tarantelli e Giulia Benite (a Mônica dos filmes live-action da Turminha), elenco de voz original, que vive os protagonistas com graça.

Outro pilar que sustenta Perilmps é a envolvente trilha sonora de André Hosoi. Fundamental para a produção, a música se destaca sem roubar o foco da história, atuando para realçar tanto os momentos de calmaria e iluminação, quanto a urgência das ameaças que se apresentam. Não por acaso, as canções são resultado da mistura influências de diferentes culturas, um dos grandes temas do roteiro.

O texto une rivais em prol de um bem maior, em uma estrutura utilizada sem muitas surpresas – com direito à mensagem de que a união das diferenças é mais forte do que talentos individuais. Porém, as diferenças entre Claé e Bruô são celebradas como forma de construir as mitologias no mundo de Perlimps.

A ligação de Bruô e o reino da lua com a natureza, e a dependência da tecnologia encontrada em Claé e nos adoradores do sol, trazem um contraste que pulsa vida nesse universo onírico criado com a música e a animação.

A história se estabelece como uma fábula moderna que abre brechas para paralelos com o momento que o Brasil atravessa no mundo real. Ter protagonistas que estão em lados opostos, além de colocá-los em uma contra o tempo para impedir a derrubada de uma floresta, é relacionável demais para quem está prestando atenção. A metáfora culmina em uma mensagem bela, mas que demonstra problemas na entrega.

No decorrer da aventura, a abordagem contemplativa de Perlimps passa a ficar gradualmente cansativa. É quase como se a produção se esquecesse de avançar a narrativa para focar exclusivamente em brincar com os sentidos do público. Não ajuda que a dinâmica entre Claé e Bruô evolua vagarosamente para guardar a grande reviravolta para os minutos finais.

O ritmo é tão prejudicado, que o longa sofre para recuperar o fôlego. Marcada pela chegada do João de Barro dublado por Stênio Garcia, essa retomada acontece quando Perlimps expande seu universo ao brincar com outros estilos de animação. Um resgate do potencial demonstrado nos minutos iniciais que ele embala o filme até a conclusão.

Perlimps chega ao fim com uma experiência marcada pela soma de sentimentos conflitantes. Se por um lado a produção tem um roteiro enxuto e não mantém um ritmo engajante, por outro há um espetáculo audiovisual construído com esmero para levar o expectador por uma jornada onírica. Uma fábula imperfeita, mas executada com um capricho invejável.

div-ad-vpaid-1
div-ad-sidebar-1
div-ad-sidebar-halfpage-1