O instantâneo sucesso de Jurassic Park - Parque dos Dinossauros (1993) foi tão estrondoso que lançou uma sombra que acompanhou toda a franquia que veio a seguir. Essa constatação ganha forças com o lançamento de Jurassic World: Domínio, filme que busca nele uma forma de encerrar a trilogia iniciada em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015). É uma pena que nem mesmo o bem-vindo resgate do fascínio pelos dinossauros trazido pela nostalgia seja capaz de salvar o novo capítulo final da saga da mesmice.
Situada anos após os eventos de Jurassic World: Reino Ameaçado (2018), quando os dinossauros se misturaram de vez ao mundo dos homens, a história mostra Owen Grady (Chris Pratt) e Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) vivendo isolados para proteger a jovem Maisie Lockwood (Isabella Sermon). Eles acabam obrigados a entrar em uma aventura quando a jovem é sequestrada junto à filhote da velociraptor Blue.
A jornada leva o casal a um inesperado encontro com Alan Grant (Sam Neill), Ellie Sattler (Laura Dern) e Ian Malcolm (Jeff Goldblum), o trio protagonista do Jurassic Park original. Eles se reúnem após anos sem se ver para investigar um possível plano sinistro operado pela Biosyn, empresa responsável por um habitat de dinossauros.
A divisão entre núcleos que fatalmente vão se encontrar não é exatamente nova, mas dá a Domínio suas maiores forças e fraquezas. No lado positivo, o roteiro de Colin Trevorrow e Emily Carmichael aproveita o trio clássico para resgatar um olhar de admiração e deslumbramento que há muito havia se perdido na franquia.
Enquanto o primeiro Jurassic World diz de maneira cínica que “ninguém mais fica impressionado com um dinossauro” para justificar o uso de tecnologia para a criação de híbridos “maiores, mais barulhentos e com mais dentes”, dessa vez a coisa é diferente. O contato com as criaturas é tratado com toda a admiração e encanto possível pela direção de Trevorrow, que sete anos depois tem a chance de fazer um mea-culpa e admitir que é impossível se acostumar com algo tão excepcional quanto conviver com os dinos.
Essa diferença de abordagem traz um novo fôlego à produção, que encara as criaturas além da ameaça. É claro que ainda há perseguições e momentos de tensão, mas elas são embaladas por uma visão apaixonada que ampliam a conexão com as criaturas jurássicas.
Infelizmente, isso não é o bastante para evitar que Domínio caia nas armadilhas dos dois filmes anteriores. Para fazer caber tantos elementos na mesma história, o roteiro se enche de facilitações ao ponto de deliberadamente evitar responder perguntas que surgem ao longo da trama.
Por si só, atalhos não chegam a ser problema, já que a própria franquia já mostrou isso ao resolver o clímax do primeiro com um Deus Ex Machina em forma de T-Rex. A questão é que fica evidente a falta de capricho quando tudo se baseia apenas no acaso e na sorte para mover a trama adiante da forma mais rápida possível.
A falta de interesse no desenvolvimento afeta diferentes partes do projeto, passando desde os vilões absolutamente ridículos que beiram o caricatural, passando pela motivação de figuras centrais. Isso mina o envolvimento do espectador e tira o sabor das vitórias de heróis que já deram um jeito de passar por coisas muito mais desafiadoras no passado.
Nesse ponto, a direção também tem sua culpa no cartório. Com exceção do trio de Jurassic Park, que recebe toda a atenção para brilhar ao entregar exatamente o que os fãs esperam, todo o resto é acompanhado com uma distância quase apática. São vários os momentos em que a condução pouco inspirada de Colin Trevorrow desperdiça momentos genuinamente emocionantes para tentar forçá-los mais adiante com diálogos cafonas.
A ação também é prejudicada por decisões questionáveis. O cineasta aposta em planos fechados e uma trêmula câmera na mão para causar claustrofobia, mas acaba perdendo a mão por não saber dosar. Com isso, a tensão acaba sendo diminuída em uma cacofonia desnorteante.
A maior prova de que essa abordagem não funciona está na forma como o filme cresce quando ela é colocada de lado. Alguns dos momentos mais empolgantes ou aflitivos de Domínio nascem justamente quando os planos se abrem e buscam formas mais criativas de trazer urgência e dinamismo sem se fazer desnecessariamente confusos.
É justamente nesses pontos em que os dinossauros, as grandes estrelas do show jurássico, brilham. Além dos velhos conhecidos que dão as caras aqui, o destaque fica por conta de novas espécies, cujos visuais e características trazem obstáculos dignos da saga Jurassic.
Ainda assim, os pontos mais altos de Domínio não compensam a estrutura frágil que os cercam. Até mesmo a nostalgia funciona como uma faca de dois gumes ao agradar os fãs pela nostalgia enquanto escancara que a trilogia Jurassic World dificilmente chegaria a um fim satisfatório sem recorrer ao passado.
Há uma certa dose de ironia nessa constatação negativa, já que o Jurassic Park original se fez tão grandioso justamente ao explorar o passado com tamanha criatividade. É uma pena que quase 30 anos depois, sua estrutura se tornou tão repetitiva e desgastada que talvez um novo período de preservação faça bem. Com sorte, o próximo explorador a mexer nesse tesouro conservado em âmbar tenha mais sucesso e traga novas ideias a esse universo.