Logo do Jovem Nerd
PodcastsNotíciasVídeos
Crítica | Dunkirk
Filmes

Crítica | Dunkirk

Em épico de guerra, Christopher Nolan justifica a adoração que tem por parte de seus fãs

Cesar Gaglioni
Cesar Gaglioni
26.jul.17 às 17h11
Atualizado há quase 8 anos
Crítica | Dunkirk

Desde que apresentou ao mundo a sua visão do Batman, Christopher Nolan se tornou um diretor com uma legião de fãs fieis e fervorosos. Se em A Origem e Interestelar Nolan pecou um pouco em querer ser intrincado demais, em Dunkirk ele prova que uma boa parte da adoração que seu nome carrega é justificável, entregando um filme tenso, intenso e angustiante.

É importante contextualizar a verdadeira Batalha de Dunkirk antes de abordar o filme em si. Ela aconteceu entre os dias 26 de maio e 4 de junho de 1940. Na ocasião, a cidade homônima, no litoral da França, foi cercada pelas tropas alemãs — cerca de 400 mil soldados estavam sem saída, sem muitos mantimentos e sem esperança. As forças armadas da Inglaterra tentaram várias incursões para resgatar os homens e a maioria foi infrutífera, com aviões derrubados e navios naufragados. A luz só veio quando algumas centenas de civis ingleses pegaram barquinhos de pesca e de turismo, atravessaram o Canal da Mancha e ajudaram no resgate de cerca de 338 mil pessoas.

Nolan, que também escreveu o roteiro, optou por não mostrar todas as ramificações da batalha e focar na reta final da missão de resgate. O cineasta contou com a ajuda do historiador Joshua Levine na produção, o que garantiu fidelidade aos fatos, com poucas exceções: a maioria dos personagens não existiu de verdade e há alterações na pintura dos aviões nazistas, nos canos das armas e nos uniformes dos soldados.

Dunkirk é diferente daquilo que estamos acostumados a ver em um filme de guerra. Sai de cena o patriotismo e o heroísmo de O Resgate do Soldado Ryan e Band of Brothers, entra uma brutalidade bem menos poética e bastante incômoda.

A Segunda Guerra Mundial é chamada por muitos de "A última guerra romântica", por ter sido a última vez em que um confronto teve dois lados muito distintos. Nolan mostra essa dicotomia de maneira sutil e opta por personagens centrais cinzentos e complexos, com um roteiro que explora as qualidades e as fraquezas humanas. O Bem e o Mal, em seus conceitos clássicos, se tornam um ideal quase inatingível diante da situação.

Regras próprias

Nolan transita entre vários núcleos distintos, traçando arcos narrativos para os soldados que estão na praia esperando ajuda, os comandantes que precisam organizar a operação, os pilotos da Força Aérea e os civis que decidiram atravessar o Canal da Mancha para resgatar seus conterrâneos. Não há a figura do protagonista tradicional no filme. Com essa decisão, o diretor subverte várias convenções e técnicas narrativas e dialoga com um público em um nível mais emocional do que racional — não temos muito tempo para criar laços bem definidos com esse ou aquele personagem, tanto que o nome da maior parte deles nem é dito em tela. Mas a história mexe conosco alcançando nossos instintos mais básicos de solidariedade e compaixão.

Apesar de ambientado em 1940, Dunkirk reflete sobre algumas coisas que vivemos hoje em dia: a polarização cada vez mais presente (que é retratada em algumas discussões entre os soldados), o preço da indiferença e como egos inflados podem custar vidas. É um espelho que reforça o velho clichê de que precisamos conhecer a história para não repeti-la.

Assim como em Interestelar, Nolan utiliza muito bem o som (ou a ausência dele) para fazer o espectador mergulhar na história. Em Dunkirk, o cineasta usa o silêncio para construir tensão e medo; tiros e explosões geram um sentimento de angústia e claustrofobia no público — por isso, é essencial assistir ao longa em uma sala que possua um bom sistema de som.

Hans Zimmer, compositor da trilha sonora, deixa de lado seus acordes e melodias épicas e investe em uma trilha mais silenciosa na maior parte do tempo. Nas cenas mais tensas, o músico subverte a expectativa do tradicional crescendo de suspense e apresenta violinos descompassados e arranhados que contribuem para a criação do incômodo nos espectadores.

Contemplando a guerra

Nolan preferiu utilizar planos mais longos e muitas vezes contemplativos — o oposto da estética de boa parte dos blockbusters de hoje em dia. As cenas mais frenéticas têm a função de dar mais drama aos personagens do que mostrar os terrores da guerra de forma ampla.

Apesar de Dunkirk ser cerca de uma hora mais curto do que Interestelar e da trilogia do Cavaleiro das Trevas (o filme tem uma hora e 49 minutos), direção, edição e montagem fazem com que pareça ser infinitamente mais longo do que esses outros. De certo modo, assistir à tudo o que é mostrado, durante tanto tempo, ajuda a aumentar o desconforto com a batalha.

Dunkirk já é um clássico de seu gênero e o crédito disso tudo fica nas mãos de Nolan, que soube usar todas as ferramentas que tinha em suas mãos para contar uma história que, apesar de profundamente triste, celebra o melhor do ser humano, mesmo diante de tanta destruição.


Dunkirk estreia dia 27 de julho no Brasil.

Veja mais sobre

Encontrou algum erro neste conteúdo?

Envie seu comentário

Veja mais

Utilizamos cookies e tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossas plataformas, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
Para mais informações, consulte nossa Política de Privacidade.
Capa do podcast

Saiba mais