Vengeful Guardian: Moonrider | Review
Com estilo impecável, trama relevante e jogabilidade satisfatória e desafiadora, game retrô reforça talento dos brasileiros da JoyMasher
Em meio a um cenário cheio de nomes muito talentosos, JoyMasher talvez seja o melhor estúdio de games brasileiro, graças ao seu estilo marcante e influências variadas. Até agora, a dupla de desenvolvedores Danilo Dias e Thais Weller entregou apenas obras de altíssimo nível – tanto em termos de qualidade, quanto de desafio. Vengeful Guardian: Moonrider, seu quarto jogo, chega para reforçar que o talento do estúdio está em constante evolução.
Ao longo de uma década, a desenvolvedora se estabeleceu com títulos originais fortemente inspirados por clássicos, como Ninja Gaiden, Castlevania, Contra e muito mais. Todos trazem controles simples e desafios bastante acentuados, com fases repletas de inimigos que dão bastante dano, em posicionamentos traiçoeiros e aquela punitiva dificuldade de jogos retrô.
Para Moonrider, o estúdio retoma a mesma cartilha de design que consagrou Oniken (2012), seu primeiro trabalho – ou seja, ambientação sci-fi militarista, combate rápido, trechos de plataforma e fases mais lineares, marcadas sempre por um chefão para concluir cada nível. É visível que os desenvolvedores trazem toda a expertise que acumularam ao longo dos últimos dez anos, e o resultado é uma experiência desafiadora, claro, mas também um pouco mais justa e variada.
O game surgiu como um projeto paralelo de Danilo Dias durante a pandemia, mas rapidamente se tornou o mais novo título da desenvolvedora com o reforço de André ‘Yin’ Silva no design e programação, e a produção de Weller. Por conta disso, Vengeful Guardian: Moonrider soa como um trabalho mais intimista que os outros do estúdio, com escopo reduzido e texto mais reflexivo, ao mesmo tempo que é um autêntico jogo de ação arcade.
Lâmina revoltada

Ambientado em um futuro distópico, o jogo mostra uma máquina criada para proteger um governo totalitário e reprimir a população. Porém, a tecnologia se revolta e fica ao lado dos rebeldes, em uma intensa jornada de vingança contra seus criadores.
No controle do Guardião, é preciso bater de frente com exércitos, caçar e enfrentar os demais robôs que protegem os militares e a elite, mesmo que isso desafie a programação do protagonista.
Dentre os trabalhos do estúdio, Moonrider é facilmente o título com jogabilidade mais ampla. O ataque básico pode ser expandido em uma sequência rápida de três golpes, e também é possível correr e desferir um poderoso corte de espada em alta velocidade.

O Guardião ainda conta com voadoras aéreas, pode saltar pelas paredes e também possui um variado arsenal de ataques especiais, que só aumenta ao ritmo em que cada chefão robótico é derrotado, já que é possível adquirir suas habilidades únicas ao melhor estilo Mega Man.
Com isso, há mais opções para o jogador desenvolver seu próprio estilo e enfrentar enrascadas. Ao invés de pedir por movimentos precisos para lidar com os obstáculos e inimigos das fases, isso significa abordar cada nível de forma criativa. Se você empacar em algum trecho, há outras formas de lidar com os desafios, e estratégias variadas para enfrentar chefões agressivos.
Um sistema de checkpoint aperfeiçoado, que agora não te faz recomeçar fases do início nem quando suas vidas se esgotam, também garante que a dificuldade não seja injusta. Morreu em um ponto mais avançado do nível, ou então não conseguiu derrotar um chefe? O game te recoloca momentos antes, o que dá ainda mais incentivo para testar várias estratégias.
Pane no Sistema

As fases de Moonrider são lineares, mas o jogador pode escolher jogar os níveis que bem entender. Todos ficam liberados desde início e seguem a mesma lógica: sobreviver a uma série de obstáculos para, eventualmente, enfrentar os demais Guardiões que protegem o governo totalitário daquele universo. Nesses momentos, o game demonstra o contexto em que foi desenvolvido.
Cada encontro com um chefão traz alguns breves diálogos entre o protagonista e seus antigos colegas. Os embates são sempre estilosos, com cada rival trazendo algumas falas em japonês e visuais memoráveis, mas são essas curtas interações que ressaltam que Moonrider é uma forma de processar a série de atrocidades e atmosfera pesada que acometeu o Brasil ao longo dos últimos quatro anos.
Não é um “game de mensagem”, que quer martelar qualquer tipo de argumento na cabeça do jogador, mas é justamente o texto mais sensível que faz a discussão soar ainda mais forte.

Depois de anos adormecido, o Guardião se vê do lado errado da história, e luta contra a própria programação para tentar garantir um futuro mais justo para toda a população. Nos embates contra outros de sua classe, os antagonistas tentam convencê-lo de que essas atrocidades são necessárias, como única forma de restaurar algum tipo de ordem.
As breves interações entre Guardiões servem como xadrez verbal sobre diferentes ideologias, uma racionalização do caos e da injustiça que não cai bem para qualquer um com um pingo de sanidade, como é o caso do protagonista. O jogo não se alonga na trama ou nas cutscenes – seu foco ainda é a jogabilidade frenética -, mas há o suficiente para criar uma experiência muito particular daquele momento da realidade brasileira: a incansável questão de como resistir, e a necessidade da luta pelo bem de todos.
Vengeful Guardian: Moonrider pode ter começado como um projeto paralelo, mas se tornou um dos melhores jogos da JoyMasher. Ainda que seja pequeno em escopo, conquista pelo visual estiloso, pela trama bastante relevante para o momento atual, e também pela jogabilidade altamente satisfatória, muito bem testada em fases desafiadoras mas justas.
O lançamento de Vengeful Guardian: Moonrider acontece em 12 de janeiro no PlayStation 4, Nintendo Switch, PC e PlayStation 5. A review foi feita com base na versão de Nintendo Switch, com código enviado pela assessoria de imprensa.