O Projeto Adam | Crítica

Filme com Ryan Reynolds na Netflix encanta ao promover um festival de nostalgia feito sob medida

Gabriel Avila Publicado por Gabriel Avila
O Projeto Adam | Crítica

Não é de hoje que Hollywood aposta no poder da nostalgia. Seja em continuações, refilmagens e reboots de filmes consagrados ou no lançamento de novas produções inspiradas em clássicos, é fato que o cinema norte-americano se tornou confortável em explorar esse sentimento. Não é diferente com O Projeto Adam, lançamento da Netflix que encanta justamente pela busca de recriar a magia das ficções científicas que moldaram o imaginário dos anos 80 e 90 sem deixar o presente de lado.

Esse tom de homenagem fica claro desde a premissa. O filme conta a história de Adam (Walker Scobell), jovem que passa por um período difícil na escola e em casa. As coisas se complicam quando uma versão adulta de si mesmo (Ryan Reynolds) aparece com a missão de impedir que o futuro seja destruído.

Em seu caminho, o filme tem como obstáculo uma natureza paradoxal comum às produções focadas em nostalgia. Elas buscam trazer um gosto familiar e atrativo aos mais velhos, que consumiram as mesmas obras que as inspiram, ao mesmo tempo em que precisam conquistar um público novo que talvez sequer conheça as referências trazidas para a tela. Para evitar esse problema, O Projeto Adam faz homenagens, mas não se ancora apenas nelas.

O roteiro escrito a oito mãos por Mark Levin (Anos Incríveis), Jennifer Flackett (Barrados no Baile), T.S. Nowlin (Maze Runner) e Jonathan Tropper (Warrior) se apossa de elementos que povoam universos de grandes aventuras do cinema oitentista com a preocupação de manter relevante para os jovens, público alvo da produção.

Um exemplo é a escolha de focar na perspectiva da versão jovem de Adam. O primeiro ato se dedica a apresentar o garoto e seus problemas para só depois trazer sua versão adulta ao presente. É o “velho Adam” quem traz a aventura de um futuro em que a humanidade chegou a naves espaciais, bastões de energia e armas de raio laser. Porém, ele precisa do olhar curioso de sua versão infantil para funcionar.

Nesse quesito, a interação entre Walker Scobell e Ryan Reynolds se torna um dos pontos altos da produção. O característico humor falastrão e irônico do astro de Deadpool guia a personalidade de Adam em suas duas versões, fazendo com que as afiadas e engraçadas provocações entre eles funcionem dos dois lados. Uma ligação forjada no humor que também faz bonito quando a produção toma caminhos mais dramáticos.

Para trazer o gosto do passado ao presente, O Projeto Adam conta com a direção de Shawn Levy, que tem grande experiência com essa mistura graças ao trabalho em franquias como Stranger Things e Uma Noite no Museu (2006). Aproveitando a deixa do roteiro, que propõe situações dignas dos blockbusters dos anos 80, a direção busca executá-las com a mesma empolgação e deslumbramento.

Reações iniciais ao filme compararam a direção ao trabalho de Steven Spielberg e George Lucas e, por mais exagerados que sejam, esses paralelos mostram como é palpável a busca da produção em prestar tributo à obra desses cineastas. Porém, mais do que apenas emular o que deu certo no passado, Levy adiciona a própria marca ao abraçar o momento atual do cinema de ficção, especialmente no que diz respeito à ação.

Responsável por Gigantes de Aço (2011) e Free Guy: Assumindo o Controle (2021), o diretor filma cenas de pancadaria e perseguição com clareza, para que o espectador nunca se sinta perdido em meio ao que está acontecendo. Considerando que muitas dessas sequências envolvem efeitos visuais e comédias, esse equilíbrio é mais do que bem vindo para que nenhum elemento fique fora de lugar.

Além de elogios à direção e montagem, esses momentos destacam como O Projeto Adam foi certeiro na escalação de Ryan Reynolds e Zoë Saldaña, que caem como uma luva para essa combinação entre ação e comédia graças a anos de experiência em filmes Marvel e similares.

Mas, além de toda a diversão e empolgação, O Projeto Adam faz bonito também ao abraçar o drama. Aproveitando o tema de nostalgia ao máximo, o filme promove uma catarse ao abordar também o lado emocional da volta no tempo e as possibilidades de fazer as pazes com o passado. São passagens tocantes e sinceras que colocam os holofotes também em Mark Ruffalo e Jennifer Garner como os pais de Adam – não por acaso reunidos em uma trama sobre viajar no tempo após De Repente 30 (2004).

O ponto negativo dessa jornada está na forma como o filme se contenta com a zona de conforto. É como se o único objetivo fosse dar vida a uma clássica aventura digna do cinema pipoca dos anos 80, deixando com que tudo se desenrole no piloto automático após encaminhá-la. A produção chega a um terceiro ato completamente previsível que caminha por uma linha tênue e quase se torna entediante por puro comodismo.

Ainda assim, o desleixo fica no quase e O Projeto Adam chega ao fim como um dos mais cativantes feel good movies – filmes leves que deixam o público feliz – da temporada. Em uma contínua materialização de fantasias, o longa cumpre a proposta de agradar jovens e adultos em uma experiência que abraça a ficção sem medo de ser brega ou cafona.

div-ad-vpaid-1
div-ad-sidebar-1
div-ad-sidebar-halfpage-1