New Tales from the Borderlands | Review
Gearbox tenta imitar o sucesso da Telltale, mas decepciona com game forçado e repetitivo
A ascensão e queda da Telltale Games é uma das histórias mais interessantes da indústria de games. A premiada desenvolvedora norte-americana se consagrou nas aventuras interativas com o premiado The Walking Dead (2012), mas saturou o gênero no espaço de poucos anos, com um fluxo constante de lançamentos cada vez menos inventivos. No meio disso tudo, Tales from the Borderlands surgiu.
Derivado da franquia de tiro da Gearbox Software, o jogo foi um dos verdadeiros destaques em meio à cansativa onda de jogos repetitivos da Telltale. Em relatos dos bastidores, como na história oral do game narrada na Campo Santo, os desenvolvedores exaltam a experiência como um respiro de criatividade em meio à linha de montagem do estúdio, ao ponto que todos os artistas, programadores e demais envolvidos praticamente imploravam para a gerência mantê-los trabalhando no projeto.
Esse amor todo transparece no excelente jogo episódico, lançado entre 2014 e 2015. A jornada do executivo fracassado Rhys e a golpista Fiona se tornou um dos melhores jogos da Telltale, e também um dos melhores da franquia Borderlands, com muito carisma, personalidade e humor afiado. Agora, em 2022, a Gearbox Software tenta replicar esse acerto com New Tales from the Borderlands, uma bagunça decepcionante que apenas ressalta como o antecessor foi especial.
Com o fim da Telltale Games, o estúdio dono dos jogos de tiro de Borderlands é quem tenta a sorte com uma nova aventura narrativa. Dessa vez, a trama gira em torno de um trio interconectado e altamente desastrado: Anu, uma cientista incompreendida da Atlas, que é forçada a busca um artefato no hostil planeta de Promethea; seu irmão Octavio, um trombadinha com ambição de empreendedor; e Fran, a chefe do jovem em uma loja de iogurte congelado em Promethea, que luta contra surtos de raiva e dívidas impiedosas em medidas iguais.
O trio de personagens é onde fica mais visível que o desejo da Gearbox não é exatamente criar uma nova jornada nesse universo caricato, mas sim seguir os passos da Telltale, cujo jogo tinha um ótimo elenco. O problema é que nada na trama realmente pede pelos três, e a decisão acaba por bagunçar o ritmo do game.
Por si só, poucos dos arcos são realmente interessantes. A trama de Anu tenta descaradamente imitar a trajetória de Rhys, que cresceu de capacho corporativo para um sobrevivente, mas o faz sem o mesmo carisma ou objetivo minimamente chamativo. O lado de Fran é altamente esquecível, e parece dar muitos holofotes para uma personagem assumidamente secundária na jornada.

Quem se salva é Octavio, cujo charme de marginal fracassado se encaixa perfeitamente com tudo que Borderlands é, e rende os melhores trechos do game. Acompanhado pelo sarcástico robô assassino L0U13 – que, por sinal, já pode ser considerado um dos melhores personagens da franquia -, sua vontade de ganhar dinheiro rápido lhe coloca em todo tipo de enrascada, visto que ele não é exatamente uma pessoa brilhante.
Além de dois terços das tramas serem medianos, o problema é que o jogador controla os três quase que simultaneamente. Se já não fosse tedioso o bastante constantemente trocar entre os núcleos, fica pior quando eles se reúnem, e se torna necessário escolher opções de diálogos para cada um dos protagonistas alternadamente. Isso complica a imersão, já que torna mais difícil manter consistência nas escolhas, e cria uma sensação de estar conversando consigo mesmo ao invés de interação com outros personagens.
Essa estrutura bagunçada também marca presença na jogabilidade. O antecessor brilhou por subverter as mecânicas limitadas dos jogos narrativos da Telltale Games. Aqui já não há essa restrição, mas é visível que a Gearbox tentou ao máximo dinamizar o momento-a-momento do jogo. Pode até ser uma iniciativa interessante, mas a execução é bastante cansativa, com excesso de quick time events (vulgo apertar botões nas horas certas).
O esforço é admirável e, vez ou outra, rende algum mini-game divertido – como estapear a arma de Anu para que funcione, por exemplo -, mas esses costumam ser exceção. Como é um jogo que vive à sombra do antecessor, New Tales from the Borderlands fica dividido entre manter a mesma linguagem da Telltale ou expandir sua fórmula.
A indecisão cria uma experiência inconsistente e cansativa. A maior forma de interação ainda é através de caixas de diálogo, mas agora há curtos trechos em que se assume os personagens em terceira pessoa para explorar cenários e coletar loot, por algum motivo. É uma tentativa de trazer conceitos dos jogos de tiro para o derivado, mas que fazem o game soar confuso em seus objetivos.

Não dá para negar que New Tales from the Borderlands é um esforço inferior ao original. Além da narrativa e design truncados, o game ainda é amador em sua direção e escrita, repleto de piadas e cenas sem nenhum tipo de timing cômico ou tentativa de humor minimamente mais complexo.
Pelo uso de música, carisma dos personagens e visual dinâmico, o antecessor mais parecia um filme de Edgar Wright. Já esse – estático e forçado – soa como assistir um grupo iniciante de stand-up: talvez algo até tire um riso, mas ainda é preciso melhorar muito para valer a pena.