Dome Keeper | Review

Indie sobre explorar um planeta desconhecido é uma das experiências mais satisfatórias, punitivas e viciantes do ano

Arthur Eloi Publicado por Arthur Eloi
Dome Keeper | Review Dome Keeper/Bippinbits/Divulgação

A beleza de acompanhar a cena de jogos independentes é o fluxo constante de gratas surpresas. Basta mergulhar na lista de lançamentos do Steam com a cabeça aberta que, em pouquíssimo tempo, você se encontrará investindo horas e horas em algum projeto feito por uma equipe minúscula. Este é o caso de Dome Keeper.

Desenvolvido pelo casal alemão René e Anne, do estúdio Bippinbits, o projeto aparenta ser um game simples de exploração, com agradável pixel art e temática de ficção científica. Mas basta iniciar uma partida para entender que o jogo é, simultaneamente, uma das experiências mais satisfatórias e angustiantes do ano.

Em Dome Keeper, um astronauta pousa em um planeta bizarro e passa a escavar seu subsolo em busca de tesouros deixados por civilizações alienígenas. Durante essa exploração, porém, a base do astronauta – um domo, protegido por um escudo de energia – sofre constantes ataques de criaturas monstruosas, que se intensificam a cada nova onda.

Na teoria, é tudo muito simples. Você minera por recursos e itens preciosos no subsolo, e então retorna à superfície para fazer upgrades e lutar contra monstros. A prática, porém, é muito mais intensa do que isso, por que o jogador é constantemente pressionado a reavaliar suas prioridades.

As marcas de um domo sobrevivente (mas não por muito tempo)

Dome Keeper é uma experiência sobre escassez generalizada. Nunca há recursos o suficiente para ter um mínimo de segurança contra as criaturas. Não há tempo o suficiente para explorar propriamente, transportar recursos e se defender dos monstros na mesma rodada.

Nem mesmo a defesa é eficiente, dependendo de um laser fraco e lento para enfrentar as criaturas. Cada intervalo entre ondas dura menos de um minuto, e o astronauta dificilmente se move rápido o bastante ou é capaz de carregar peso o suficiente para fazer esses curtos períodos de tempo valerem a pena.

Cada rodada é como se proteger do frio com um cobertor curto, constantemente sendo puxado para as áreas de maior necessidade. Isso dá um ritmo bastante agitado para o game, que entende que você fracassará bastante antes de ter um desempenho decente.

O título é um roguelike, ou seja, seu progresso é zerado a cada partida, aumentando a pressão para ter um bom resultado. Nada é mais doloroso do que ter seu domo destruído por monstros mesmo quando você está se saindo muito bem na exploração. Mas a dor é parte do prazer.

Nada representa melhor a angústia de Dome Keeper do que tentar voltar para a superfície carregando recursos vitais para a sua sobrevivência

Pode não parecer de longe, mas Dome Keeper é uma experiência assumidamente punitiva. Isso fica claro na seleção de dificuldades e modos. As opções padrão – “Normal” e “Mapa Pequeno” – são respectivamente descritas como “mais tranquila que outras dificuldades” e “para sessões mais curtas”.

Ainda assim, partidas nessa configuração podem se arrastar por quase uma hora, sem espaço para respiro pelos constantes ataques das criaturas. O último nível de dificuldade, por sinal, é chamado apenas de “Brutal” – e é descrito como “a dificuldade pretendida para o jogo”.

O prazer no sufoco

Desde o início, o game alerta que vai te torturar, e a graça é justamente sobreviver aos socos e pontapés. A frustração que surge por precisar voltar correndo do subsolo para a superfície quando os monstros já estão batendo na porta só demonstra o poder de imersão da experiência, que fisga o jogador com objetivos simples e mecânicas bastante polidas.

A árvore de upgrades não é particularmente extensa ou cansativa, com opções o suficiente para garantir que cada sessão seja diferente da anterior. As escolhas têm peso, e é fácil se ver gastando recursos de melhorias importantes a longo prazo com reparos que garantem a sobrevivência imediata. Essa dinâmica ressalta a importância de achar recursos nos curtos intervalos entre ondas, já que uma melhoria ao laser ou ao domo podem estender sua sobrevivência por mais uma rodada.

Ainda que o vai-e-vem seja angustiante, escavar o subsolo com uma furadeira que nem sempre dá conta do recado é, surpreendentemente, satisfatório. Talvez pela ótima pixel art ou pela trilha sonora relaxante de sintetizadores, o game alcança um marcante contraste entre a calmaria e a correria.

Quer chegar nesse nível de defesa contra os monstros? Então se prepare para sofrer bastante

A todo momento é preciso tomar decisões importantes, como quais melhorias equipar, quais upgrades devem ser priorizados, quais direções explorar primeiro, ou até mesmo quais criaturas devem ser abatidas antes, já que todas têm padrões de ataque diferentes e o laser com certeza não dá conta de derrotá-las antes de encostarem no domo. Em todos os casos, algo sempre será perdido ou deixado de lado, e a satisfação surge de sair vitorioso, apesar de tudo.

O conceito por trás do jogo não é exatamente inédito, na verdade. Você se lembra de Minecraft? Tudo que o game faz é focar naquela sensação de angústia de estar fundo no subsolo e ter que voltar correndo para defender sua casa de Creepers, zumbis e outras ameaças da noite. Aqui, porém, a noite chega rápido e com frequência, e não há oportunidade de reconstruir quando tudo é destruído.

Com boa variedade de opções e monstros, Dome Keeper é facilmente uma das experiências mais viciantes do ano, que pede para ser jogado várias vezes em busca da sessão perfeita. Estressante por design, o game é perfeito para os masoquistas que gostam de algo igualmente fofo e punitivo, que exige que o jogador questione a própria estratégia a todo momento.

Dome Keeper está disponível para PC. A review foi feita com base em código enviado pela publisher Raw Fury.

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