Coluna
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Tungstênio, a HQ brasileira que mudou minha vida
Inauguração da nova coluna de quadrinhos tem participação especial de Load Comics
Seja muito bem-vindo ao Bunker de Quadrinhos, a nova coluna de HQs do NerdBunker. Aqui você vai encontrar uma coleção de reportagens, entrevistas, indicações e curiosidades sobre histórias em quadrinhos. O cantinho nasce com a estreia do Me Indica uma HQ, uma série de recomendações de gibis que merecem sua atenção.
Tudo isso acontece em uma data mais do que especial, já que 30 de janeiro é o Dia do Quadrinho Nacional. Para comemorar, a indicação da vez é Tungstênio, clássico absoluto de Marcello Quintanilha que levou prêmios, virou filme e mudou minha vida. Mas vamos por partes.
Tungstênio, de Marcello Quintanilha

Tungstênio é uma história policial de tirar o fôlego situada em um dia qualquer em Salvador, quando uma dupla usa bombas para pescar na praia em frente ao famoso Forte Mont Serrat. Ilegal, essa prática é o ponto de partida para um conto que entrelaça as jornadas de um sargento aposentado, um traficante, um policial e a esposa dele.
O quadrinho tem como trunfo uma narrativa envolvente, que prende o leitor enquanto costura a teia que une seus personagens. Quintanilha usa e abusa da linguagem para pintar retratos complexos de pessoas tão comuns que podem facilmente lembrar pessoas conhecidas.
Em suas mais de 180 páginas, Tungstênio garante a imersão com uma atmosfera de tensão que cresce a cada virada de página. Um suspense que se resolve abrindo mão de respostas fáceis e propositalmente deixa lacunas para que o público preencha. Se a vida real não se explica completamente, por que o quadrinho deveria?

Com isso, Tungstênio passeia por suspense, ação, e até romance em um conto brinca com o que se espera dessas histórias. Sem tirar o pé da complexidade encontrada no mundo real, a publicação não julga os erros de seus personagens, assim como não vangloria seus acertos. Uma sobriedade que não tira o poder catártico da narrativa, mas escolhe usá-lo de formas inesperadas.
Tudo isso com um cenário como Salvador, que é retratado em toda a sua glória. Mais do que um destino paradisíaco, a cidade é um local vivo e pulsante que participa ativamente da história, chegando a ter o poder de interferir e mudar os rumos dos acontecimentos – muita coisa seria diferente se não fossem os engarrafamentos, por exemplo.
Tudo isso ajuda a entender por que Tungstênio é considerado um clássico. Um status que não demorou para chegar, já que a HQ de 2014 caiu no gosto do público, recebeu prêmios mundo afora e até inspirou uma adaptação para o cinema. Porém, o que me motivou a trazê-lo aqui é minha relação pessoal com a produção.
Tungstênio e a descoberta da HQ nacional
Quando Tungstênio foi publicado pela Veneta, eu já era leitor de quadrinhos. Nessa altura, frequentava bancas e sebos atrás das novas aventuras de Batman, Homem-Aranha e companhia, além de saber de cor nomes de autores consagrados como Alan Moore, Jack Kirby e muitos outros. O problema é que quase nada do que lia vinha do Brasil.
Com exceção da Turma da Mônica, o quadrinho nacional ficava de canto enquanto eu mergulhava nas Crises da DC e nas Guerras da Marvel. Isso mudou quando o bafafá em torno dos prêmios e do filme tornou Tungstênio grande demais para ignorar.

O impacto foi instantâneo e me fez perceber, com certa vergonha dos meus hábitos de leitura, que as HQs brasileiras não devem em nada para o que é feito lá fora. Pelo contrário, há um sem-fim de histórias poderosas e emocionantes que só podem surgir da vivência e ideias dos artistas que vivem e respiram a imensa riqueza cultural do Brasil.
Longe de mim dizer que quem só acompanha Marvel ou DC não merece se considerar leitor ou algo do tipo. Porém, os quadrinhos nacionais enriqueceram minha experiência como leitor e renovaram minha paixão por HQs ao abrir as portas para um universo a ser desbravado.
A forma apaixonada com que a Cidade Baixa de Salvador é retratada por Quintanilha contagia. A arte passeia por pontos turísticos e ruas cuja arquitetura, veículos e objetos fazem parte da minha realidade. O mesmo pode ser dito do texto, que saboreia a linguagem popular com suas gírias, metáforas e além. E foi essa escolha, de celebrar uma parte de nós mesmos, que me revelou a magia do quadrinho nacional. Uma jornada que começou com Tungstênio, mas que está longe do fim.
Tungstênio foi publicado em edição física e digital pela Editora Veneta. Você pode acompanhar o trabalho de Marcello Quintanilha nas redes sociais.
Load Comics indica Sakamoto Days, de Yuto Suzuki
O Me Indica Uma HQ é uma série colaborativa que traz convidados especiais para recomendar uma leitura que merece ser levada para o Bunker de Quadrinhos.
Na primeiríssima edição, temos Load Comics, criador de conteúdo e figura carimbada na família Jovem Nerd. Ele é dono de canais no YouTube e na Twitch, apresentador do Desce a Letra Show, criador do projeto Rap em Quadrinhos e autor de uma das histórias do livro Os Meninos Maluquinhos.
Grande leitor de HQs, ele recomenda o mangá Sakamoto Days, de Yuto Suzuki:

“Em Sakamoto Days, temos Taro Sakamoto, um tiozinho que é proprietário de um mercado de bairro. Apesar de parecer muito de boa para a galera, ele tem um lado totalmente diferente: sua verdadeira identidade é a de um ex-assassino lendário. Quase numa pegada Lady Killer [HQ de Joëlle Jones e Jamie S. Rich], em que a dona de casa esconde que é uma assassina. Porém, Sakamoto deixou isso no passado e está vivendo tranquilamente quando certas pessoas do passado vêm atrás dele atrás de confusão, daí ele precisa saber equilibrar isso com o cotidiano da família e da loja.”
Para Load, a produção é um prato cheio para fãs da franquia John Wick, já que acompanha um assassino aposentado que precisa lidar com matadores que querem sua cabeça. Porém, faz isso com um tempero especial de comédia:
“Vale muito a pena porque é um mangá com bastante humor e ação, então quem gosta de rir e pirar em cenas de porrada e tiroteio vai se amarrar. Quando sair uma adaptação disso em anime no futuro, tenho certeza que a galera vai pirar.”
Sakamoto Days está em publicação no Brasil pela Panini.